domingo, 31 de janeiro de 2016

TEMPORAL E JANGO

Temporal e arquivos secretos de Jango

Estamos ainda chocado com o temporal que sacudiu Porto Alegre.
É muito triste ver o estrago no lindo Parque da Redenção.
Foi a tempestade mais violenta dos meus 54 anos de idade, que eu estava comemorando com alguns no Barraquinho quando tudo começou. Vimos de camarote pela vidraça que suportou a pressão do vento.
O restaurante, porém, sofreu danos.
Mas a equipe da casa segurou a barra com maestria.
O temporal jogou para segundo plano um lindo trabalho que fizemos para o Caderno de Sábado do Correio do Povo, uma edição muito especial sobre Os Arquivos Secretos de João Goulart guardados pelo seu oficial de gabinete Wamba Guimarães até morrer, em 2003. Hoje, o material está com o neto de Wamba, Ricardo Guimarães. Grande parte é a correspondência recebida por Jango como presidente.
wamba

(Wamba é um jovem de bigode no canto direito da foto)
A apresentação do Caderno de Sábado sobre os arquivos de Jango diz o seguinte:
Todo presidente da República tem seus homens de confiança. João Goulart, em 1964, contava com o seu secretário Eugênio Caillard, que tinha como oficial de gabinete um gaúcho chamado Wamba Guimarães, amigo de Jango desde os tempos de faculdade em Porto Alegre e encarregado da correspondência oficial da presidência. Quando Jango teve de ir embora, às pressas, com o avanço do golpe militar que o levaria ao exílio, ordenou a Wamba que se mandasse com o arquivo.
Wamba reuniu em duas malas o que conseguiu e partiu. Guardou o precisou material durante quatro décadas, até morrer no interior de São Paulo nos primeiros anos do século XXI.
A fidelidade a Jango não lhe permitiu retomar antigos projetos e o condenou a um modesto cargo no Banco do Brasil. Wamba fixou-se em Arujá, pequena localidade a 43 quilômetros capital paulista. Velou toda a sua vida pelos documentos que constituem o Arquivo Secreto de João Goulart. Tem de tudo, de cartões de fim de ano de autoridades, do presidente da China aos Kennedy, passando por correspondência do Papa e pedidos, até um documento sobre as operações Elefantes, Caravelle e Boeing, durante a Legalidade, depois da renúncia de Jânio Quadros, em 1961, e relatórios confidenciais alertando sobre a preparação golpe de 1964.
Parte muita interessante do Arquivo Secreto de João Goulart é constituída de cartas pedindo favores, especialmente empregos. Nesse sentido, tem carta do ex-presidente JK, de senador, de presidente do Supremo Tribunal Federal e até de artistas como Eleazar de Carvalho, que seria um dos mais destacados maestros brasileiros. As relações clientelistas eram moeda corrente. Outros documentos mostram acordos entre partidos com definição de gastos em campanha e de ocupação de cargos. Num desses documentos, JK informa que os cargos no Triângulo Mineiro seriam distribuídos pelo deputado Mário Palmério, que viria a ser grande escritor, autor deChapadão do Bugre e Vila dos Confins.
Fui a São Paulo, neste começo de janeiro, conhecer Ricardo Guimarães, neto de Wamba, que herdou do avô o Arquivo Secreto de Jango. São mais de 800 itens, inclusive centenas de fotos e 37 medalhas de bronze cunhadas para a posse de João Goulart, em 7 de setembro de 1961. Acionei meu amigo Bernardo Issler, gaúcho radicado em São Paulo há mais de cinco décadas, professor aposentado da USP, para receber Ricardo e o material na sua casa, no Pacaembu. Ricardo levou o Arquivo Secreto de Jango nas duas malas originais carregadas por Wamba no tragicamente inesquecível ano de 1964.
Contador, dono de uma lotérica, Ricardo Guimarães busca desesperadamente um destino para o tesouro do seu avô. Quer vender o material para dar melhores condições de tratamento à sua avó doente, Elsa, 92 anos de idade. Ricardo ofereceu o Arquivo Secreto de Jango a muitos historiadores e jornais. Marco Antônio Villa, que escreveu sobre Jango de um ponto de vista negativo, teria dito que faria a revista Veja comprar tudo para queimar peça por peça. João Vicente Goulart, filho de Jango, teria prometido elaborar um projeto capaz de gerar os recursos necessários à aquisição dos documentos. Não evoluiu.
O Arquivo Secreto de Jango é um manancial sobre o cotidiano de um presidente da República.
Jango escrevia em guardanapos, em menus de jantares, onde fosse possível, rabiscando determinados a serem tomadas. Ricardo lembra que seu avô considerava ser o guardião de uma bomba. O pai de Ricardo quer distância dos documentos, que lhes trazem más lembranças. O que acontecerá? P
ara onde irão os documentos? Ricardo deu-se um prazo: se não conseguir comprador até este final de janeiro, vai incinerar tudo e virar a página. Será?
Pensem  nisso  enquanto  eu  vos digo até amanhã.

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