quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A MORTE

A curva da estrada

Fernando Pessoa nos disse, num de seus poemas, que a morte é a curva da estrada. E morrer é só não ser visto. Talvez seja isto. Talvez só nos reste seguir em frente até que, de repente, sairemos do caminho que percorríamos. Talvez sejamos apenas almas ou energias cujo combustível são sentimentos, de lá e de cá, de dentro e de fora, misturados de tal forma a nos determinarmos importantes a quem nos cerca, e inexistentes aos que nem nos perceberam vivos. Ao morrermos, os que nos amam chorarão desesperos, sentirão saudades, mas a maioria esmagadora dos humanos nem tomará conhecimento. O que diferencia nosso existir para uns e outros são as emoções boas ou ruins que provocamos e a falta ou não que faremos ao partir.
E embora sejamos, todos, um gigantesco rebanho de condenados, cuja única certeza em vida é justamente seu fim a qualquer momento, ela nos inquieta, essa tal morte. A ponto de a ignorarmos em nossa rotina, ainda que nos assombre, ou ameace, ou esteja sempre se reinventando em formas estimuladas por nós mesmos. E nos surpreendermos quando ela se mostra, ali, próxima, ao nosso lado. Nuns dias em que foram tantos conhecidos partindo, e tantas notícias de mortes tão banais quanto violentas, lá em casa dava para tocar o desconforto que pairou nos silêncios reflexivos. E há uma impotência que não se furta em lamentar, mesmo se sabendo sem sentido, sobre não termos feito algo para evitar esta morte, ou não por não termos ido até lá, em suas casas, para nos despedir antes, para mostrar o quanto gostávamos dessas pessoas.
E seria possível, se despedir? Seria possível adivinhar?
A morte é um enigma e uma lógica. O segredo mais óbvio. E, o corpo humano, uma caixinha de surpresas. Ele pode estar aprontando nossa partida sem que sequer desconfiemos, mesmo que, sem se dar conta, ou sem dar muita importância, tenhamos comprado as malas para a viagem. E o corpo de um ser vivo é uma máquina perfeita. Ao decidir parar, não dá espaço para ampla defesa e contraditório, nem pedido de desculpas, argumentação de que se precisava ficar mais um pouco, hein, quem sabe só mais um pouquinho, há tanto ainda para ser feito…
Não. A morte chega e leva num instante. Por razões tão suas e umas provocações tão nossas. E por mais que mil teorias se arrisquem a explicar o que ela, de fato, significa, talvez fosse bom a gente apenas crer que depois dela há algo bom. E que estas pessoas que amamos e se foram estão bem.
Não sei.
Na verdade, a gente queria mesmo era continuar com eles por aqui.
Pensem nisso  enquanto  eu  vos digo  até amanhã.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O TEMPO

O TEMPO MOISÉS MENDES Para lembrar ou para esquecer no fim do ano: uma lista de fatos que parecem ter ocorrido anteontem. 11 de dezembro d...