sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

PORQUE NÃO GOSTAMOS DE POBRES ?

Devemos matar os pobres ou fazermos justiça social?

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"Escrevi aqui sobre o clamor do Papa pedindo aos 1% da pirâmide econômica do mundo que não se esqueçam dos pobres. Mostrei que a miséria e a pobreza não são causadas por maldição divina nem por predestinação, como pensava Calvino segundo o que afirma Max Weber no seu livro “Ética Protestante e o espírito do capitalismo”.
A miséria e a pobreza tem como causa a forma da brutal desigualdade com que o capitalismo desorganiza a produção e a concentração de riquezas em poucas e estúpidas mãos.
Nas redes sociais, em sala de aula e em toda parte as pessoas falam cargas de besteiras usando a fábula representada pela frase batida “não há que se dar peixe, mas ensinar a pescar”.
A repetição dessa frase é viciada, vazia de análise e de reflexão, portanto rica de preconceitos e ignorância sobre a realidade de nossos irmãos que passam fome e que são miseráveis.
No fundo, a papagaice transporta instintos assassinos em relação às vitimas do capitalismo.
Quem diz que pobre é vagabundo, que tem que trabalhar para se sustentar porque todos os que trabalham vencem ignora a realidade da exclusão a que são submetidos os pobres e os trabalhadores.
A partir daí as pessoas falam aética e desonestamente sem saber o que dizem, movidas pela omissão e até pelo ódio semeado pela direita fascista.
Outras apostam na caridade, que soluciona parcial e temporariamente os problemas de algumas pessoas num processo semelhante a quem enxuga gelo.
Ora, a caridade é pouca coisa diferente da omissão. Ela mantém as pessoas na forma indigna e humilhada de quem não cresce e não assume a emancipação cidadã.
A caridade “ajuda” mais quem a pratica do que as pessoas alvo. Muitos se elegem a cargos públicos e até se promovem com a caridade quem dizem praticar, mas os pobres continuam cabisbaixos e desmoralizados.
A solução da miséria e da pobreza não passa pelos caminhos dos fofoqueiros, caluniadores e injuriadores dos pobres, não anda pelo caminho das omissões nem vai muito longe pelo trilho da caridade.
Li com atenção a entrevista da ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello.
O que diz Campello merece reflexão séria no que se refere a ações do Estado Brasileiro para enfrentar, através dos programas sociais, os graves e históricos problemas humanos causados por modelos anteriores, absolutamente impiedosos e marginalizantes.
Lendo-a vê-se o quanto a direita brasileira e seus papagaios leitores da mídia mentirosa são predatórios e desumanos nos julgamentos discursivos dos pobres e na condenação dos programas sociais.
A Ministra Tereza Campelo foi a Porto Alegre falar no Fórum Social Mundial sobre os protótipos representados pelo filme “Que horas ela volta?”
Disse que Val representa a mulher que viajou de Salvador para São Paulo para trabalhar como doméstica numa família “classe” média.
Lá, Val trabalhou como num contexto de escravidão, cabeça baixa e obediente aos patrões, dedicando-se 24 horas diárias e 7 dias por semana a trabalhar, vivendo numa casa na qual era tratada como a maioria das mulheres trabalhadoras o eram: sem espaços, sem direitos e sem democracia.
No que se refere à Val, embora a dona da casa a louve, o tratamento dispensado a reduz a um quarto quente, cheio de mosquitos, a refeições na cozinha após os patrões, sem a comunhão proporcionada pela partilha familiar ao redor de uma mesa.
Muitas famílias ditas “classes” média e alta tratam seus trabalhadores e suas trabalhadoras de forma excludente, fria e marginal. Os preconceitos contra os trabalhadores e pobres são corriqueiros e tidos como normais, embora não vivam nem sobrevivam sem seu trabalho explorado com suas pessoas desvalorizadas.
Porém, no filme tudo muda com a chegada da Jéssica, filha da Val.
Enquanto sua mãe viajou para São Paulo para trabalhar, deixando a filha em Salvador, Jéssica viaja deixando seu filho também, mas vai com o objetivo de fazer vestibular e o curso de arquitetura na USP, aprovada enquanto o filho da patroa é reprovado.
Interessante que Jéssica emenda um rosário de questionamentos e de rebeldia contra os “satatus quo” desde os primeiros contatos com a mãe, a quem não via por anos.
Questiona-a por morar no trabalho, por se submeter a dormir num quarto de péssimas condições, por aceitar fazer as refeições após os patrões junto ao cachorro da casa, por limitar-se a uma linha divisória invisível entre as coisas que pode comer e degustar na geladeira e as que não pode porque são de propriedade dos patrões.
A tudo Jéssica relativiza e é tida como rebelde e revoltada pela mãe e pela patroa.
Explicando que aprendeu com seu professor de história, Jéssica mostra interesse pelos problemas sociais e muita crítica com o estado arrumadinho ao qual se enquadrou sua mãe.
A criticidade da moça transformou a consciência alienada de Val, que se demitiu da casa para se aliar a uma nova vida com a filha, agora estudante da USP.
A ministra diz em sua entrevista que as políticas públicas ajudaram a mudar os rumos de mulheres como Val e Jéssica. A primeira, oprimida pelo desemprego e pela exclusão social, obrigou-se a abandonar sua cidade e família para trabalhar. A segunda avança como filha de pobre graças às inúmeras possibilidades propiciadas pelos programas sociais, que são temidos e odiados pela direita e pela burguesia opressoras e preconceituosas.
É claro que não se deve matar os pobres e enterrá-los na miséria ou enganá-los com omissões e batidinhas nas costas com frases feitas depois de esmolas alcançadas, como do tipo “vai com Deus”, “tudo vai dar certo” nem com caridades que promovem os caritativos e mantém na subjugação os “caridados”.
A ministra Tereza Campello menciona inúmeros programas que promovem e libertam. Vale a pena ler aqui, refletir, debater e criticar. O que não vale, sob pena de cinismo, é ignorar essa entrevista.
Numa sociedade séria e cidadã os programas sociais na solução da miséria e da pobreza têm que ser questão de Estado mais do que de governo. E muito mais do que caridades e ações eventuais de uma ou outra instituição.
Viva os milhões de Jéssicas que se levantam em todo o País, graças à luta por dignidade e cidadania!"
Aprendi desde guri  no  colo  de  meu pai  e  de minha  mãe. Getúlio  e  Cely  que  sempre devíamos ajudar e compartilhar
com os menos  favorecidos aquilo que tivéssemos  pois isso é
uma atitude de amor  ao próximo.
Vejo  hoje,  e de há muito  pessoas  que  ficam  ofendidas, bravas  quando pobres  de um  modo  geral, são  beneficiados
por programas  sociais  do  governo,  porque?
Penso que são  gente como nós que precisam  de  ajuda, de uma  proteção  para mais adiante  seguirem o  seu rumo   e,
não  os largarmos por aí, atirá-los  como  se não fossem  nada.
Pensem  nisso  enquanto  eu  vos digo  até amanhã.

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