sábado, 14 de abril de 2018

QUEM SOU ?


Quem sou? Para onde vou?


"Como diria Fernando Pessoa, “Não sou nada./Nunca serei nada./Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Troco a palavra sonhos por pretensões. Não me falta pretensão. Os acontecimentos jurídico-políticos do país me fizeram perguntar: quem sou? A direita diz que sou comunista e petista. A esquerda não confia em mim. Os especialistas me chamam de leigo. Os leigos me acham acadêmico demais. Quem sou? Um anarquista? Um liberal social? Um socialdemocrata? Um positivista? Um legalista? Um palpiteiro? Quem?
Sou tudo isso. Quando falo de questões jurídicas, faço isso como doutor em sociologia pela Sorbonne (olha o carteiraço). Estou autorizado a fazer sociologia do direito. Na verdade, não acredito muito em neutralidade em alguns campos. Reconheço domínio técnico, que cada um pode alcançar, no que interessa, rapidamente, mas sei que ele se mistura o tempo inteiro com a subjetividade e a ideologia. A opinião do especialista é sempre técnica. Opinativo é quem os contraria. Sou um liberal. Acredito em contraditório e em Estado de Direito. Não pauto meus julgamentos gerais por política ou moral. Sou um liberal social ou socialdemocrata. Acredito em livre iniciativa e em participação do Estado para ajudar na distribuição e no equilíbrio.
Meu modelo é a Suécia. Nunca fui comunista por falta de disciplina e de adesão intelectual. Não posso ser neoliberal por enxergar todo o tempo a mão invisível operando nos bastidores. Sou cada vez mais positivista. Estudo comunicação. Conheço as ambiguidades da linguagem. Mas sei que é possível escrever textos cristalinos. Resta saber se há interesse. Defendo cada vez mais o respeito autonomia do texto. Se está ruim, caba aos eleitos fazer as mudanças. Eles não querem mudar? Cabe aos eleitores mudá-los. Eles não querem ou não conseguem? É a democracia. Não cabe a iluminados identificar e promover mutações por considerar que alguns dos seus dispositivos caducaram. Parte da mídia voluntarista e da sociedade com impulsos morais gosta desses arroubos com frases feitas sobre o futuro dos nossos filhos. Eu quero um futuro de respeito aos textos legais.
Aprendi muito nos últimos meses sobre manipulação, simulação e estultice. Não sou nada. Nunca serei nada. Isso me permite ser tudo a cada segundo. Aprendi como se pode chegar por caminhos sinuosos a fins claros como a água do Tietê. O Brasil sai de tudo o que tem vivido mais dividido do que nunca. A divisão não é um produto calculado por este ou aquele, mas a constatação de um estado de coisas multissecular. Na base, fomos o país dos escravos e dos seus donos. A pacificação atual é o discurso do lobo para Chapeuzinho Vermelho. Seja boazinha, vai, não radicaliza. Colabora, vai.
O Brasil continua, em certo sentido, o mesmo de 12, 13 ou 14 de maio de 1888: um abismo de desigualdade útil defendido pelos que auferem de todos os privilégios com os mais diversos nomes, de renda, patrimônio, lucros e dividendos a auxílio-moradia. Brasil, país em que os 10% possuem mais de 50% da riqueza nacional. Sou aquilo que sou. Um enigma se autodevorando à luz dos trópicos.'

Pensem   nisso   enquanto  eu  vos  digo  até  amanhã.

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