quinta-feira, 12 de abril de 2018

FUTURO E PESADELO DO HOMEM

Homem do futuro e do pesadelo

 Falei aqui do livro “Homo Deus”, do historiador Yuval Noah Harari. O primeiro livro dele, “Sapiens”, eu adorei. Ainda não tenho posição firmada sobre o segundo. Em alguns aspectos, odiei. Como suportar esta afirmação: “Será revelado que o individuo não é senão uma fantasia religiosa”. Ou esta: “Alguns economistas predizem que, cedo ou tarde, humanos não melhorados serão completamente inúteis”. Economistas neonazistas? E esta: “Eu não escolho minhas vontades. Eu apenas as sinto e ajo de acordo”. Sou um robô de algoritmos biológicos. Não escolho este tema. Apenas o sinto e ajo de acordo.
Harari pode enfurecer mais gente com suas provocações para todos os gostos e ideologias: “Se você conta com serviços nacionais de saúde, fundos de pensão e escolas públicas, tem muito mais a agradecer a Marx e a Lênin (e a Otto von Bismarck)…” Não se assanhem os marxistas. O capitalismo venceu: “A despeito de o passatempo favorito de acadêmicos e ativistas ocidentais consistir em achar defeitos no pacote liberal, até agora eles não conseguiram pensar em nada melhor”. Não deixa de ser verdade embora os marxistas costumem dizer que todas as experiências comunistas fracassadas foram distorcidas e não representam de fato o que de melhor poderiam fazer.
Dentro do espírito de que o mundo avança para uma divisão entre milhões de humanos que “superlotam vagões de terceira classe” e uma super-elite tecnológica, Harari bota o Brasil no meio: “O que prefeririam fazer as elites indianas, brasileiras ou nigerianas no próximo século? Investir na resolução dos problemas de centenas de milhões de pobres ou na elevação do nível de alguns milhões de ricos?” A opção das elites parece clara. A de Harari também: deixar para trás os “inúteis” ou mantê-los como frangos num aviário. Harari faz um longo elogio aos porcos, mamíferos inteligentes e afetivos, e uma interminável crítica aos humanos. O anti-humanismo tem um pequeno problema: é sempre antropocêntrico, coisa de humano com sentimento de culpa ou ódio pela própria “classe”. Sem dúvida, Harari faz “causar”. Um best-seller não se faz sem provocação emoções à flor da pele.
Num ponto, concordo com ele: “As redes de cooperação humanas comumente se avaliam com parâmetros inventados por elas mesmas, e não é de surpreender que não raro se atribuam notas altas”. As avaliações acadêmicas não o deixam mentir. Para Yuval Harari os humanos pensam que são indivíduos únicos, mas são apenas exemplares de uma espécie, clones sem singularidades. O seu darwinismo e a sua crença nas ciências biológicas esvaziam o homem do seu mistério. Chega a ser ingênuo. Dado que a ciência abre o corpo humano e não encontra dentro dele nem a alma nem a consciência, então fica provado que não existem? A ciência tem sua arrogância natural.
Toda a argumentação de Harari pode ser resumida grosseiramente: o mais forte vencerá. O mais forte é o que melhor se adapta. O homem não é diferente do resto. As máquinas levarão a melhor. Máquinas já compõem música clássica melhor do que homens. Um programa de computador já enganou apaixonados por Bach fazendo mais rápido e aparentemente igual ou melhor do que o gênio. O homem já era?
O mais forte por enquanto é Sérgio Moro."

Pensem nisso   enquanto  eu  vos digo   até  amanhã.          

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