terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

UM APELO AOS BANDIDOS


O incrível apelo aos bandidos



(coluna de sábado, edição impressa)
"As redes sociais têm promovido um festival de absurdos. Infelizmente em detrimento, ou até mesmo asfixia, das manifestações interessantes que esse palco democrático da tecnologia oferece. Eu lia sobre a morte trágica de Paola Serpa, rainha da bateria da escola de samba Imperatriz Dona Leopoldina. Mais um caso de crueldade e frieza dos bandidos, assassinando a mãe em frente à família para roubar seu carro, segundo indicam as primeiras investigações. Vi homenagens emocionantes de amigos e carnavalescos e pensava na alegria que ela, ao lado dos seus, devia saborear às vésperas do carnaval, já vivendo preparativos, ensaios e expectativas junto a uma agremiação campeã. Ainda mais neste ano, com o desfile sendo o ponto alto no aniversário da capital gaúcha. O destino foi ingrato. A festa que ela mais amava não terá o mesmo brilho e sentirá sua ausência.
Porém, duas manifestações me chamaram a atenção. Uma pela estupidez. E até entendo a raiz da indignação: quando outra mãe foi executada por ladrões em frente à escola da filha, também em Porto Alegre, um professor nordestino, que em sua doença mental se acha um “militante de esquerda”, escreveu absurdos sobre o crime, dando razão ao assassino. Considerou “justiça social inevitável” e culpou a vítima por ter dinheiro para pagar escola particular. Estultice desprezível. Aí outro, com o assassinato de Paola, escreve uma “resposta” tão estúpida quanto, falando sobre cor de pele. Ora. Somos todos povo. Somos todos vítimas e o que precisamos é nos unir para encerrar este oceano de lamas e equívocos, de ausência de educação, respeito ao próximo e desvalorização da vida. Precisamos saber dizer não às máfias de todos os níveis e aos comportamentos ofensivos, não mergulhar numa guerra insana e autofágica enquanto a maré nos aniquila.
Outra manifestação que dá o que pensar é um apelo aos bandidos. Alguém, em perfil anônimo, escreveu aos traficantes: “Perdoem pelo menos os trabalhadores de bem, que não tem nada a ver com o tráfico, quem sofre é a comunidade toda que não pode sair de casa. Peço encarecidamente, se querem entrar nas vilas e pegar os pontos de trafico, ok, só não matem inocente no caminho, muita gente chega depois das 22h do serviço e agora começam as aulas, tem gente que estuda e chega mais tarde, vai fazer o quê se tem toque de recolher?”. Triste. Ele não pede mais ajuda ao poder público, a quem paga seus impostos. Pede, em desespero, licença ao criminoso. É pedir ao ladrão que roube o próximo carro, tudo bem, só deixe o dono vivo. Eis o Brasil democrático. Eis o país que alardeava ter redução de pobreza, ter inclusão, dignidade e cidadania. Onde está tudo isso? Aqui, nas nossas vidas, não chegou."

Pensem  nisso  enquanto   eu   vos digo  até  amanhã.

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