segunda-feira, 6 de junho de 2016

UMA TARDE FRIA DE INVERNO GAÚCHO

Estou aqui voltando  as minhas lembranças  e me  acompanha  o  chimarrão  das horas  boas  e  das horas  ruins. O sorver da seiva pura gaúcha, me  fortalece   e aquece o  meu  peito.
É   o  frio  gaúcho lá fora, ajudado  por um  ventito  que parece que  vai abrir  nossa pele, e chega a doer.
Minha cabeça  abre  os  filmes   que estão  em  mim,  uns coloridos,  outros em preto e branco,  uns com áudios  outros não,  e assim,  a tarde  vai caindo, dando  passagem  pra noite  mais fria  que  vai se aproximando.
Lembranças, momentos, eternos momentos,  poucos momentos, mas momentos  vividos que o tempo não  descolorou na minha  memória.
Lá atrás  ,a   minha  Totó, de cor  amarronada,minha cachorrinha,  que era o  meu mimo, foi  o  primeiro  bichinho que tive quando  criança, e  depois, quando  eu tinha  11  anos, ela morreu,  ela  morreu  de saudade, eu  morava no  Rio de Janeiro, e  ela  tinha ficado  na casa do  meu tio-padrinho, Peri, não  esqueço  desse  dia, ainda  moleque, senti  muito  a morte  da Totó,  ela  morreu  em  São  Gabriel,  já estava  velhinha segundo  os meus tios,   mas foi  minha companheira  de todas as horas.
Vem,  um  filme de uma pracinha, que era  chamada,  da pracinha do amor na minha cidade natal,  lá  conheci  minha primeira namorada,  ela  era  babá, foi  naqueles bancos  que o  primeiro  beijo  aconteceu, gurizote, sabe, aquele  namoro gostoso, nos encontrávamos quase todos os dias, e eu ajudava ela a empurrar  o  carrinho  do  bebê .
Minha namorada, era uma guria, simples,  muito  pobre, mas  o  tempo  e  as circunstâncias  nos afastaram, éramos jovens, se tinha lá dentro da gente,  sonhos, e quem  os não  tem,  não é mesmo?
Hoje, fico  a  pensar,  a perguntar  ao tempo,  aonde ela  está hoje? Por onde andas ?
Faz tempo, nunca mais nos  vimos, nos perdemos  nos sonhos  de  guri  e guria.
o  tempo,  e naquele  tempo, era diferente  o  namoro, eu muito tímido, custei  a dar  o  primeiro  beijo  nela, rsrsrs, hoje, bem,  hoje, tudo  é rápido,  começa rápido  e termina rápido.
Um  dia como  hoje, na fazenda  do meu  tio  Peri Quadros, ele  disse  pra mim, ""  julinho  vamos lá no mato  cortar  lenha, eu  franzininho, ia ao lado  do meu tio um homem  forte,  rude,  esfolado pelo  tempo,  mas um  homem maravilhoso,  curtido  pela vida, um  homem forte,trabalhador, ele  com o  machado  na mão, e  aquele  frio    cortava,  chegamos então próximo  a um açude, e  o  meu tio  começou a preparar a  lenha, e  após esse preparo  da lenha, o  meu tio  olhou pra mim  e disse: julinho, vamos tomar um  banho  pra refrescar,  levei um  susto, naquele  frio, de junho, meu tio  começou a se despir,  e eu  um  guri  de cidade, que passava  as  minhas férias  de colégio, sempre na fazenda  dele, não  queria mesmo,  enfrentar  aquela água, fria  demais, e o  meu  tio,  vamos  meu  filho, tira roupa, vamos entrar na água,
Ele dizia  temos que aprender sermos machos desde cedo, a vida é uma luta,  temos que lutar  sempre.
Me fui pra água,  até pra mostrar   pro meu tio  que  eu  era macho, sabe,  essas  coisas  de guri.
Nas  minhas  retinas,  as lembranças passam, e  eu não  esqueço  do  meu  chimarrão.Eu aprendi muito  com o  meu  tio, talvez ali, eu  comecei  amar,  a minha terra,  o  meu  Rio Grande  do Sul e  esse  gosto  da terra,  do  cheiro do  campo, de gostar  de cavalos, buscar o  gado  na invernada, plantar, marcar gado, apojar nas mangueiras, nas  madrugadas, com certeza tinha a  assinatura do meu tio.
Agora, a gente  se emociona,   e pra continuar não consigo, apenas  que fica uma puta saudade, uma saudade gostosa,  que  dói, porque eu  queria  viver tudo isso de novo.
Talvez  a idade nos deixam  emotivos demais, mas tudo  isso são  vivências que eu  vivi  e relembro,  no meu  matear  solito, e agora, chegou a noite, e sopra,  um  minuano, lascando  a nossa pele.
Uma pausa do  chimarrão, e vamos em  frente.
Pensem nisso enquanto  eu  vos digo até amanhã.


2 comentários:

  1. É Primo, Tú eras o Magrela da Turma. Mas relembrando o nosso Tio Peri, já escrevi: Se tivesse acesso ao ensino, seria um Doutor. Pois na simplicidade dele, em que a enxada era sua "caneta" nos relatava cada espécie de cultivares na sua olericultura. Nós tivemos uma Bela e Farta Infância.


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  2. É Primo, Tú eras o Magrela da Turma. Mas relembrando o nosso Tio Peri, já escrevi: Se tivesse acesso ao ensino, seria um Doutor. Pois na simplicidade dele, em que a enxada era sua "caneta" nos relatava cada espécie de cultivares na sua olericultura. Nós tivemos uma Bela e Farta Infância.


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