sexta-feira, 6 de julho de 2018

PSICOLOGIA NAS REDES SOCIAS

Psicologia de massa em rede social

"Todos queremos ser considerados inteligentes. E somos. Na maior parte das vezes, contudo, não estamos preparados para mostrar nossa inteligência. Precisamos de assuntos que facilitem a tarefa de parecer inteligentes. Queremos distração. Mais do que isso, uma distração que nos permita opinar como pessoas inteligentes, mostrar que entendemos do assunto e até desqualificar a opinião do outro. O futebol é perfeito para isso. O barato do futebol é que ele nos distrai das chatices da vida e ainda nos libera para liquidar quem nos incomoda:
– Não entende nada.
A massa hipermoderna, mais do que educação, quer distração em tempo real na irrealidade cotidiana. Ela quer ser distraída até dos problemas de educação que não consegue resolver. Não se trata só de educação dos setores mais desfavorecidos. O futebol distrai também as camadas abonadas dos seus problemas gerais e serve-lhe de muleta, como para os demais, nas horas claudicantes de tédio ou desencanto. A distração produzida pelo futebol valoriza cada um até no desejo de desvalorizar o outro. Cada um que acompanha pode argumentar e fuzilar:
– Não entende nada.
A frase mais usada nas discussões do esporte mais acompanhado e do qual mais pessoas entendem no Brasil é essa repetida acima. Velhas categorias superadas em outras áreas são retomadas. Duelam cientificistas e impressionistas, objetivistas e subjetivistas, positivistas e relativistas, diletantes e neotáticos. Há os que acreditam na planificação total e os que destacam o papel do imprevisto, do acaso, do imponderável. Alguns querem constituir um campo e cercá-lo com arame farpado para uso e abuso dos especialistas autodenominados. Outros desdenham de toda sistematização e contentam-se com um diletantismo de bar e de tiradas cervejeiras nem sempre brilhantes, mas sempre definitivas como devem ser as máximas ditas em mínimas disputas.
O elitista adora pensar que futebol é ópio do povo, embora ele mesmo seja dependente dessa droga distribuída em doses cada vez maiores. O seu consumo seria moderado, consciente e racional. A massa, formada sempre pelos outros, é que perderia o controle. O futebol é mais do que metáfora da vida. É vida. Mas é também metáfora de debates políticos, acadêmicos, culturais e até religiosos. O importante é ter mais razão do que o outro e localizar a causa primeira capaz de explicar um resultado, uma classificação, uma eliminação, um triunfo.
Durante quatro anos ouvimos que o planejamento alemão explicava os 7 a 1 de 2014 no Brasil. A precoce eliminação da mesma Alemanha em 2018 atropelou a bela teoria assentada no culto do planejamento. Os frios e planejados alemães tornaram-se arrogantes e erraram no planejamento para a Copa da Rússia? A goleada no Brasil produziu neles uma soberba tão grande a ponto de errarem na planificação? Hipóteses não faltam. O futebol tem essa mania de dar argumentos para uma tese e, em seguida, para a antítese. Tudo que é sólido desmancha no erro. Eu tenho teses: 1) a tentação da superexplicação estrutural para um jogo cheio de coisas imprevistas e pontuais revela um desejo de totalidade que o próprio jogo se encarrega de negar. 2) a explicação para o resultado de um jogo quase sempre está no próprio jogo 3) todo aquele que diz que eu não entendo de futebol não entende de futebol. A desqualificação do outro na política não é diferente. A primeira estratégia é ordinária:
– Não entende nada. É leigo.
A segunda ampara-se numa falsa neutralidade que aponta o dedo para o outro:
– A gente sabe a ideologia dele."

Pensem  nisso  enquanto  eu  vos digo  até  amanhã.

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