quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

A COVARDIA DOS GOVERNISTAS

A covardia estratégica dos governistas

"Borges escreveu sobre a História Universal da Infâmia.
Modestamente, como me cabe, tenho escrito sobre a História Regional da Infâmia.
O catálogo das iniquidades gaúchas ganhou novo capítulo com a votação do pacote Sartori.
É a covardia por regimento.
Protegidos pelo regulamento da Assembleia Legislativa, os deputados governistas, às vésperas do Natal, permitem-se demitir funcionários públicos concursados sem se dar o trabalho de ir à tribuna sustentar suas posições.
Nem os líderes do bloco governistas gastam tempo para explicar seus pontos de vista.
Poucas vezes vi algo tão indigno.
Demissões na calada da noite sem precisar gastar um minuto de justificativa.
Nem sequer uma exposição de motivos.
Um representante do povo tem a obrigação moral de expor-se.
A história lembrará desses deputados que se esconderam atrás de uma regra cômoda e ardilosa.
Alguns, certamente, riem do jovem deputado Marcel van Hattem, um dos poucos a ir para confronto.
Devo parabenizá-lo.
Marcel subiu à tribuna para dizer sua verdade e assumir sua posição como ideológica.
E os outros?
Onde se meteram os figurões bons de verbo? Não sentem vergonha de presentear neste Natal funcionários com o desemprego sem lhes conceder um fundamento, uma argumentação, um pingo de racionalidade discursiva?
Eles têm pressa em reduzir a pó o futuro alheio. Imbuídos de suas convicções ideológicas, dispensam a empatia com os feridos por suas decisões. Aos que os criticam, respondem cinicamente: “É uma estratégia de plenário”.
A regra ética ensina coisas simples: nunca demita alguém usando eufemismos como “descontinuar”.
Nunca destrua os projetos dos outros sem lhes oferecer uma justificativa pessoal ou institucional.
O pacote do governo é recheado de incoerências. Extingue, para fazer economias, o que não dá prejuízo. Escolhe arbitrariamente empresas para eliminar e deixa outras de fora que poderiam seguir a mesma lógica de extinção. Percebe-se que se trata de um fatiamento. As que escaparam agora serão vitimadas depois.
Chegará o dia da Corsan, da Uergs e do Banrisul?
Se o Estado não deve ter televisão, por que teria banco?
Estado pode e tem, pelo mundo, televisão, banco e fundações de pesquisa.
O Estado gaúcho foi terceirizado? Aplica um projeto que lhe é entregue pronto?
Recebe o aplauso incontido da RBS. Segue as sugestões da tal agenda 20/20.
Cada um com as suas convicções. Faz parte do jogo democrático.
Só não faz parte da moralidade se esquivar ao encontro com a dor alheia.
Não seria mais justo discutir, fazer audiências públicas, passar semanas debatendo?
Que diriam os deputados governistas desta fábula: “Era uma vez um lugar muito distante chamado RS. Numa véspera de Natal, os representantes do povo se reuniram no parlamento para votar um projeto enviado em regime de urgência pelo governo extinguindo entidades públicas, demitindo funcionários concursados, gerando desespero, desemprego, indignação, incompreensão e incredulidade. As votações estenderam-se pelas madrugadas. Muitos perderam seus sonhos, passado, presente e futuro às três da manhã sem que os governistas tenham subido à tribuna para sustentar, justificar e explicar seus pontos de vista. Nenhuma palavra sobre as imensas isenções fiscais para empresas produtoras, em contrapartida, de poucos empregos. Nenhum pio sobre a chamada caixa preto dos incentivos aos que exigem não pagar impostos.  O massacre se deu no mais amplo silêncio da maioria dominante, salvo, aqui ou ali, manifestações de deputados incontidos. A oposição falou quase sozinha até se esfalfar. E assim viveram infelizes para sempre lembrando daquele Natal das extinções e das demissões aprovadas sob o silêncio dos donos do poder. Na rua, em frente ao parlamento, a polícia reprimia brutalmente os insatisfeitos justificando com bombas ditas de efeito moral a imoralidade da falta de coragem para o confronto de argumentos. Moral da história: os vencedores não se importam com os vencidos. Não há moralidade no regulamento. Ao perdedor, os ossos do peru de Natal”.
No parlamento ideal cada deputado não aceita votar sem justificar seu voto quando este produz lágrimas na plateia.
Caros deputados, aprovem o que quiserem, mas não se escondam. Argumentem na tribuna."
Pensem  nisso enquanto  eu  vos digo  até  amanhã.

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