sexta-feira, 8 de abril de 2016

OS FILHOS DA TERRA

Publico a carta   escrita   em  1854  pelo  chefe índio  Seattle ao  então  presidente dos Estados Unidos,  Franklin Pierce,  que pretendia   comprar uma imensa faixa territorial de sua tribo   em troca  de um "reserva". É magnificamente  linda  e imortal a carta. Os leitores   desse  blog merecem  lê-la.
"Como  podeis  vós comprar   ou  vender o céu,  o calor,  a terra? Se nós  possuíssemos a frescura da água  e do ar, de  que maneira Vossa Excelência poderia  comprá-la ?
Cada pedaço  desta terra  é sagrado para o  meu povo.
Cada espinho do  pinheiro,cada rio murmurante, cada bruma nos  bosques,  cada clareira,  cada zumbido  de insetos  é sagrado na lembrança  e na lembrança  e na   vivência do  meu  povo. A seiva que  corre nas árvores   lembra  meu  povo".
" Nós somos uma parte da terra  e ela  faz   parte  de nós. As  flores perfumadas são  nossas  irmãs: o  cervo, o cavalo,  a grande águia são  nossos irmãos.
As  rochas  escarpadas,  o  aroma  das pradarias,  o ímpeto  dos nossos cavalos   e o  homem - todos  são da mesma  família.
Assim,  o Grande Chefe de Washington, mandando   dizer que quer comprar  nossa terra,  está pedindo  demais a nós  índios"
" Manda o  Grande Chefe  dizer  que reservará  lugares  onde poderemos  viver,  confortavelmente,  entre nós.
Ele  será  nosso  pai  e,  nós seus  filhos. Prometemos pensar   na vossa  idéia  de comprar nossa  terra. Mas   não  será  fácil , pois esta terra  para nós  é sagrada. A água  cintilante  que corre  nos riachos  e rios  não  é só água, mas também o  sangue  de nossos  ancestrais.
Os rios são  nossos  irmãos.  Eles saciam nossa sede, levam nossas canoas  e alimentam  nossos  filhos."
" Se nós  vendermos   nossa terra, vós deveis vos lembrar  e ensinar a seus filhos  que os rios  são   nossos  irmãos  e também  vossos. E  vós deveis dar aos rios a ternura  que mostrais para  um irmão.
Sabemos que o homem  branco não  entende  nossos costumes. Um  pedaço de terra,  para ele, é igual ao  pedaço  de terra do  vizinho, pois  é um  estranho  que  chega, àsescuras, e  se apossa  da terra  de quem  tem  necessidade.
A terra não  é sua irmã,  mas  sua inimiga, e uma vez  conquistada,  o  homem  branco   vai mais longe. Seu apetite arrasará a terra e não  deixará  nela mais que um deserto."
"Não sei,   os nossos  costumes  são  diferentes dos vossos.  A imagem   de vossas  cidades faz mal  aos olhos do  homem vermelho.Mas isso talvez  seja porque o  homem  vermelho    é um  selvagem e  não  entende".
Não  há mais lugar   calmo   nas cidades  do  homem  branco, a barulheira  parece estourar  os ouvidos( em  1854, imaginem!). O índio prefere o  doce assovio   do  vento,  lançando-se  como  flecha  sobre o  espelho   de um lago, eo  aroma do  vento, molhado pela chuva do  dia  ou perfumado  pelo pinheiro.
O ar é precioso  ao homem vermelho, pois  todas as coisas  participam  do  mesmo  sopro.
O animal , a árvore,  o  homem,  eles dividem  todos   o  mesmo  sopro.O  homem branco  parece   não  lembrar  do ar    que  respira. O    vento,  que deu   a nosso  avô  o  primeiro  fôlego,  recebeu , também, seu  último  suspiro.
Pensaremos, portanto,   na vossa  oferta  de comprar   as nossas terras"
" Mas, se  decidirmos aceitá-la, eu  porei uma condição:   o  homem branco deverá tratar todos os animais selvagens  como irmãos.  Vi  mais  de mil bizontes  apodrecendo  nos campos, abandonados pelo  homem  branco, que os abateu de um trem  que passava"
" O  que é o  homem sem os animais? " ,  prossegue,  como se  tomado por uma  luz divina , o  cacique  norte-americano. se  os animais  desaparecerem ,  o  homem  morrerá dentro  de uma grande  solidão. Ensinai também,  a vossos filhos,  aquilo que ensinamos aos nossos: QUE A TERRA É NOSSA MÃE..Dizei  a eles  que respeite,  pois TUDO QUE ACONTECER  À TERRA  ACONTECERÁ AOS FILHOS DA TERRA.
Se os homens cospem   no chão,  eles cospem sobre eles mesmos. Ao  menos sabemos isto.; A  terra não  é do  homem:o  homem pertence à terra. Todas as coisas são  dependentes. Não  foi  o  homem  que teceu  a teia de sua vida, ele não passa de um  fio   para essa  teia.
Tudo  o que fizer  para essa teia estará fazendo  para si  mesmo."
"Há uma  coisa que sabemos - termina magistralmente  o  chefe índio - e que o  homem branco  descobrirá,  talvez um dia: é  que o  nosso Deus  é o  mesmo  Deus.  E  sua piedade é igual,  para o  homem  vermelho   e para o homem  branco.
Essa terra lhe é preciosa e danificá-la  é cumular de desprezo seu  Criador."
Volta para mim  e eu  declaro  que esta  carta do cacique  Seattle  ao  presidente norte-americano  de então  é um dos mais  valiosos  documentos da humanidade,  logo abaixo  da Bíblia, do Talmud, do Corão e dos outros  todos livros  sagrados.
Esta  carta também é sagrada. Porque   ela fala  de fraternidade,  de amor, de respeito aos homens, aos animais e a todas as coisas.
Ela tem  o  o  condão das tábuas  de Moisés. Eu  estou encantado e iluminado por esta carta. Acho que ela tinha que cair  sobre todas as mentes como  a luz  do  sol  se derruba  sobre  a Terra  todos os dias.
Acho  que os camponeses sem terra  deveriam  portá-la para sempre. E  que os  grandes proprietários  de terra e  os governos  de todos os países deveriam buscar  nelas ensinamentos  para proceder a justiça  social e à bem-aventurança  dos povos.
E os ecologistas  tinham  que adotar  esta carta  como sua Constituição perene:  sem  revisão,doutor Jobim! Que carta!   Como  foi  bom viver  até aqui para poder lê-la !
Como será bom  viver mais ainda para sempre poder relê-la!
É um documento  histórico   e incrivelmente atual. Copiem-na hoje e amanhã e todos que a lerem,  a guardarem  e sempre a relerem, serão  maiores  perante a vida, pois  a  compreenderão muito melhor.

PAULO SANTANA -  COLUNISTA  DO  JORNAL  ZERO HORA - PORTO ALEGRE -  RS

Pensem  nisso enquanto  eu  vos digo  até amanhã.

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