segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O QUE É A FELICIDADE ?

Que podemos saber?

"Quebremos um pouco a cabeça.
Demos um papo à bola.
Façamos o dever com ou sem categoria.
Imperativamente.
É uma das quatro grandes questões de Kant: o que podemos saber? As outras são: o que devemos fazer? O que nos é permitido esperar? O que é o homem? Perguntas sábias são simples. Eu, que não sou sábio, acrescento uma questão complicada: o que é a felicidade? Afinal, “ser feliz é tudo o que se quer”. O que podemos saber? Não sei. O leitor já notou que o verbo da primeira pergunta é diferente do verbo da segunda. Passa-se do “podemos” ao “devemos”, da possibilidade ao dever. Jovem, a felicidade me parecia um tema menor, típico da autoajuda.
Agora, na aurora do crepúsculo, para brincar de equilibrar contrários, a felicidade me parece o único assunto deveras importante.
Sócrates, que sabia muito, dizia saber apenas que nada sabia. Conhecer o conhecimento é tarefa árdua. O que podemos saber da vida? O que podemos saber da natureza? Para fazer é preciso saber ou se pode fazer justamente por não saber? A humanidade, na sua longa marcha cheia de avanços e recuos, tem aprendido a saber cada vez mais, sendo que esse mais ainda é mínimo diante do enigma do universo. Mas ainda não sabe algumas coisas vitais: o que é a morte? Há algo depois da morte? Ignorante, eu achava ridículo alguém falar em vida fora do nosso planeta. Sempre ignorante, embora mais consciente do meu não saber, eu me pergunto agora o oposto: pode não haver vida em outros planetas? Por que seríamos os únicos na imensidão do todo universal?
Que podemos saber do nosso destino? Por destino entenda-se aquilo que, sem estar predeterminado, nos acontecerá. Quem encontrarei ao dobrar a esquina na manhã de 13 de dezembro de 2017? Dobrarei uma esquina nesse dia? Sabemos cada vez mais do muito pouco que nos é dado saber. Que resposta podemos dar a esta pergunta tão repetida: o que é a felicidade? O que podemos saber da felicidade? O que nos é permitido esperar da felicidade? O que é o homem feliz? Um nonagenário me disse: “Felicidade é o estado em que a pessoa se sente bem consiga mesma e não se pergunta mais sobre o que é ser feliz”. A felicidade tem sua história, seu imaginário, suas características, seus sinais. Terá um abecedário? A felicidade de A a Z. Seria paradoxalmente angústia a primeira palavra do alfabeto da felicidade? Angústia diante da incerteza, do medo de ser ou de não ser feliz? Angústia face a obrigação atual de ser feliz como resultado de uma meritocracia?
O que podemos saber sobre o que somos e ainda não se revelou? Seria a felicidade o estado de indiferença em relação à ideia de felicidade? Estoicos, cínicos, céticos, epicuristas, enfim, quantos já lidaram com esse saber que escapa tão rapidamente quanto o que chamamos de felicidade? O que podemos saber sobre o outro? Um velho camponês, quando eu desconhecia essa palavra, me ensinou: “Felicidade é olhar as estrelas e admirar o brilho delas”.
Custei a entender que as estrelas podem perder o brilho para alguns.
O que podemos saber sobre a fulgurância das estrelas em nossos olhos, nossas portas para o imaginário onde tudo depende de luzes que ofuscam a consciência?
O que podemos saber sobre a imensidão da nossa ignorância?"
Pensem  nisso  enquanto  eu  vos  digo  até  amanhã.

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