sexta-feira, 19 de maio de 2017

O BRASIL ATOLADO NA LAMA

O ocaso de Temer e o triunfo dos fatos

'Meu amigo Jean Baudrillard, filósofo com estilo de grande escritor, viu na queda do muro de Berlim o fim de uma espécie de “greve dos acontecimentos”. O mesmo teria acontecido com o atentado de 11 de setembro de 2001. No Brasil, em 17 de maio de 2017, terça, vimos o retorno triunfal dos fatos crus. Nos últimos anos, vivemos de teorias hiperlógicas, estranhos domínios, provas improváveis, materialidades ausentes e responsabilidade por crimes de conveniência. Acabou. A delação de Joesley Batista, da JBS, trouxe de volta o antigo – provas materiais e fatos – com ajuda de novas tecnologias espiãs.
É todo um imaginário que estrebucha, o de Michel Temer e seu grupo, velhos conhecidos do fisiologismo brasileiro, como cavaleiros destemidos em combate contra a corrupção e em defesa das reformas modernizadoras sonhadas pelo mercado e por parte da mídia. Historiadores do futuro se perguntarão: como foi possível que a média brasileira se deixasse sem classe usar pela terceira vez – 1954, 1964 e 2016, sem contar as eleições de Jânio e Collor – no truque da luta contra a corrupção como cruzada nacional. Na primeira vez, levou Getúlio Vargas ao suicídio. Na segunda, derrubou João Goulart e instalou uma ditadura militar. Na terceira, depôs-se Dilma Rousseff para corar seu vice conspirador, o persistente Temer, como salvação. Na primeira, queria entregar o petróleo. Na segunda, levantou-se contra as reformas de base. Na terceira, entregou o pré-sal e opôs-se às políticas sociais.
Um dos conceitos mais usados por Baudrillard era o de metástase.
O Brasil atingiu o estágio da metástase ética e política. Os maiores partidos foram devorados pela proliferação das células assassinas. Por algum tempo, PMDB e PSDB clonaram células saudáveis e se fizeram passar por organismos capazes de evitar o colapso do organismo em pane. A ordem era “estancar a sangria”. Mas para salvar o mal, não o paciente. As notícias sobre atividades pouco republicanas de Aécio Neves e sua irmã são mais conhecidas do que pão de queijo em Minas Gerais e já levaram jornalista que falou da lista de Furnas à prisão.
Aécio começou a naufragar quando não aceitou o resultado da eleição de 2014. Uniu-se ao PMDB de Temer para saborear uma vingança. Eles não imaginavam que desencadeada a metástase não haveria mais como pará-la. Salvo se o mercado e a mídia amiga – como na troca pelas reformas, a chamada Ponte para o Futuro, que permitiu a tomada do poder – avalizarem um novo período para o aliado “reformista”. Temer não demitiu alguns dos seus ministros atingidos pelo tsunami de lama, entre os quais Eliseu Padilha e Moreira Franco, e transformou o atolado Romero Jucá de ministro em seu líder no Senado. Por que iria abandonar o barco quando ainda imagina poder negociar o seu butim?
Michel Temer agora é um Hamlet sem grandeza vagando pelas brumas do Planalto. Aécio Neves foi afastado do Senado, sua irmã e cúmplice, a quase invisível, mas sempre presente Andreia, foi presa, assim como seu primo Fred, o receptador de malas recheadas com células delatoras. A República está novamente lambendo o rodapé da tabela. A Lava Jato espanta, por força da violência dos fatos e da necessidade desesperada do delator, o fantasma da seletividade. O Brasil chafurda na sua lama.
Por quanto tempo Temer resistirá entubado?"

Pensem   nisso   enquanto  eu  vos  digo  até  amanhã.

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