quinta-feira, 9 de março de 2017

NOSSOS RINS

A volta da pedra no rim

"Eu  nunca tinha andado de ambulância. Ainda mais com direito a sirene. Ontem, chegou o meu dia. Ao sair da faculdade, senti um mal-estar. Uma velha dor conhecida no lado direito. Fazia uns 15 anos que ela não se pronunciava.
– É a pedra – disse para mim.
Tentei aguentar. Sentei no saguão perto de colegas e dei o sinal:
– Não estou me sentindo bem.
Minha amiga Cristiane Finger se prontificou a me acompanhar até o posto médico que temos no campus da PUC. Foi levantar e apagar. Perdi uns cinco minutos desta doce existência fora de ar. Só não beijei a lona por que fui amparado a tempo. A pressão caiu enormemente. Que sensação tenebrosa. Fomos para o hospital da PUCRS, onde enfermeiros, médicos e funcionários, mesmo sobrecarregados, foram muito atenciosos comigo. Só saí depois da uma da manhã com a dor controlada, bem medicado e com a certeira recomendação que se apagou ao longo dos anos de silêncio das pedras:
– Tomar muita água.
Deve-se tomar dois litros de água por dia. Não conheço uma só pessoa que faça isso. Mas estou disposto a conseguir.
Gosto de água. Acho melhor do que Coca-Cola.
Cálculo renal dói pra caramba.
Nem consegui ver o Barcelona atropelar o PSG.
E o Inter triturar o Sampaio Correia.
Não sobrou pedra sobre pedra.
Dei um susto na Cláudia e nos meus amigos.
Tomei um baita susto. Mas eu sentia que era a volta da pedra. Não fazia cálculos. Apostava.
Agora vem outra parte complexa: expelir a pedra. Ela tem tamanho para sair sozinha. Só não tem vontade.
A primeira vez que tive problema com pedra no rim foi há quase 35 anos. Eu era muito jovem. Cheio de utopias. Pronto para qualquer combate. Disposto a conquistar o mundo. Estávamos em Tramandaí sem nada nos bolsos, mas com muita vontade de viver: David Coimbra, eu e mais alguns colegas de faculdade de jornalismo.
Foi quando li João Cabral e me apaixonei por seus poemas minerais.
Esta nova pedra não terá guarida. Não vai morar comigo.
Está convidada a se retirar. Será empurrada para fora.
A minha psicologia é simples: pedra boa é a que se esfarela e parte com a urina."
Pensem  nisso  enquanto  eu  vos  digo  até  amanhã.

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