Ministros e aliados investigados no STF enfraquecem governo
Temer aguarda detalhes da nova lista de Janot para reagir em hora difícil
KENNEDY ALENCAR
BRASÍLIA
BRASÍLIA
Enquanto os detalhes da nova lista de Janot não forem públicos, há dificuldade para medir a extensão do dano ao governo, à oposição, ao Congresso e aos principais partidos. Por isso, é fundamental que haja agilidade na quebra do sigilo, a fim de evitar incertezas políticas que sempre geram consequências econômicas e que também podem afetar a agenda do Congresso.
Mas a amplitude da lista, que tem 320 solicitações do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, indica que ela causará um grande prejuízo à classe política. Um trecho da carta que Janot enviou ontem aos procuradores da República sinaliza isso. Ele escreveu que as medidas adotadas ontem expõem “a triste realidade de uma democracia sob ataque e, em grande medida, conspurcada na sua essência pela corrupção e pelo abuso do poder econômico e político”.
“Democracia sob ataque” é uma expressão forte e que mostra que a classe política como um todo sofrerá abalo, porque será exposto o “modus operandi” da corrupção empresarial e do financiamento partidário-eleitoral no país.
Os nomes vazados até agora como alvos de eventuais inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal) foram aqueles ventilados nos últimos dias. Os petistas, com destaques para os ex-presidentes Lula e Dilma, já vêm sofrendo desgaste político faz tempo, e o PT já perdeu o poder. Haverá dano aos petistas, mas quem está no governo tende a sofrer mais.
As informações iniciais dão conta de que a elite política do governo, do Congresso e do PMDB e do PSDB será investigada no Supremo. Ter, pelo menos, cinco ministros na lista de Janot obviamente enfraquecerá o governo.
Há dois ministros palacianos e peemedebistas: Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Moreira Franco, da Secretaria Geral. Existem dois tucanos: Aloysio Nunes Ferreira, das Relações Exteriores, e Bruno Araújo, da pasta das Cidades. E Gilberto Kassab, do PSD, que é ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, também deve responder a inquérito.
Os presidentes do Senado, Eunício Oliveira, e da Câmara, Rodrigo Maia, serão investigados. Dois senadores do PSDB que foram fundamentais para derrubar Dilma, Aécio Neves e José Serra, também.
A Lava Jato abre uma nova fase que atinge a classe política como um todo, mas causa dano especial ao PMDB e ao PSDB, os dois principais partidos do governo.
O presidente Michel Temer reagiu com cautela. Sem saber os detalhes de como cada ministro aparecerá nos pedidos de abertura de inquérito ao Supremo, o presidente não tem o que fazer. O diabo mora nos detalhes. Os detalhes sobre os ministros que serão investigados dirão se eles terão condições de permanecer nos seus cargos.
Insistir em mantê-los poderá ter um custo alto, paralisando a agenda de reformas no Congresso ou tirando poder de negociação do governo para votar as mudanças na Previdência. Aliás, o governo tem errado muito nesse debate. Agora, fez um vídeo em que comete o erro político de debater com o ator Wagner Moura e defende com argumentos fracos a reforma da Previdência.
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Reação do Congresso
Os deputados e senadores falam abertamente em votar algum tipo de anistia ao caixa 2 que acabe servindo para perdoar ou amenizar punições de crimes investigados pela Lava Jato. Há uma tentativa de envolver essa anistia no bojo de uma legislação mais dura sobre financiamento eleitoral. Fala-se em aumentar a pena para a prática de caixa 2. Voltou a ganhar força a ideia de criar um tipo penal específico de caixa 2 eleitoral.
No fundo, o Congresso quer uma anistia para a corrupção porque a investigação que feriu mortalmente o governo Dilma agora ameaça a administração Temer e seus aliados tucanos e peemedebistas.
A lentidão do STF conta a favor dos políticos. E muitos políticos que sonhavam com voos mais altos e que perderão foro privilegiado ao final de seus atuais mandatos parlamentares em 2018 deverão buscar abrigo em candidaturas à Câmara dos Deputados.
Será uma tarefa imensa o STF apreciar e eventualmente julgar esses 83 inquéritos solicitados por Janot. O risco de impunidade é alto. E o foro privilegiado virou mercadoria cobiçada, o que fará ministros tentarem se segurar nos cargos. O presidente Temer tem um grande abacaxi a descascar.
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Lula x Delcídio
As perguntas do juiz e do Ministério Público indicaram pouca materialidade e inconsistência contra Lula no processo que tramita em Brasília e que apura eventual obstrução de Justiça _tentativa de impedir a delação premiada de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras.
As indagações sinalizaram que o processo estaria todo baseado na palavra do ex-senador Delcídio do Amaral. O ex-presidente deu um depoimento de impacto ontem, negando com veemência as acusações de Delcídio e respondendo com seguranças às perguntas, algumas delas até pueris. Ele obteve uma vitória política e jurídica."
Pensem nisso enquanto eu vos digo até amanhã.
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