quarta-feira, 1 de março de 2017

A RAZÃO OU NÃO DE CADA UM

É proibido ter razão

"– Ter certeza de que se está com a razão é uma demonstração de arrogância.
– Tens razão.
– Estás me chamando de arrogante?
– Mil desculpas. Não era minha intenção.
– Pode não ter sido, mas me ofendeu.
– Tens razão.
– De novo?
Estamos atolados na retórica da pós-verdade. Não escapamos de sofismas. Tornou-se clichê que cada um deve duvidar de si quanto sentir ou souber que tem razão. Estar certo e saber disso pega muito mal. Uma pessoa legal precisa se mostrar humilde, discreta e cheia de dúvidas. Como fazer quando o outro também está convencido de ter razão? Dar-lhe a razão por modéstia? Ou ambos devem duvidar de suas razões? Parece conversa fiada, mas pode levar a discussões apaixonadas e fatais.
– Os fatos me dão razão.
– Não há fatos. Só interpretações.
– Isso é um fato ou uma intepretação?
– Uma interpretação.
– Como faço para saber se é uma boa interpretação?
– Confia em mim. Não tem verdade definitiva.
– Salvo essa?
– Não falo mais contigo. Detesto ironias.
Às vezes, depois de muita briga e de pouca solução, como deve ser uma discussão de mesa de bar ou mesa de debates de outra natureza, os oponentes resolvem contemporizar e fica pior:
– Tudo bem, posso estar errado.
– Não, não, eu é que posso não estar certo.
– Não, faço questão de admitir, fui eu.
– Não, fui eu.
– Estás querendo provar que o arrogante sou eu?
– E tu, queres me dar uma aula de modéstia?
Antigamente a verdade era externa aos seres humanos. Era nisso que se acreditava. Verdade era o que coincidia com terminada situação dita empírica. Se alguém dizia que estava chovendo, bastava sair e confirmar. Meia dúzia de pingos na cabeça e tudo terminava muito bem. Esse tipo de verdade, simples demais, já não interessa. O cidadão comum espera verdades mais complexas:
– Qual a melhor forma de governar?
A resposta não se encontra na natureza. Não dá em árvore. Dá onde? Eis a pergunta. Ter razão faz passar a ideia de que a pessoa sabe tudo ou que se toma por um gênio. O que fazer num caso assim:
– Eu sei que tenho razão. O que faço?
– Mente.
– Por quê?
– É o outro que deve reconhecer que tens razão.
– Mas ele acha que tem razão!
– É tu quem tem de reconhecer isso.
– Mas eu não reconheço.
– Finge.
Ter razão é um problema. O outro exige provas que jamais reconhecerá. Na pós-verdade, todos têm razão. É questão de ponto de vista e até de direito. A razão deve ser compartilhada. Uma ideia em discussão pretende estabelecer um rodízio. Ter razão dois dias seguidos é sempre abusivo.
– Estou preocupado.
– Que houve?
– Começo a pensar que eu tenho razão…
– Ah, não! Hoje é a vez do Fábio."
Pensem nisso    enquanto  eu vos  digo  até  amanhã.

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