Renan enterra de vez o mito de Temer como político hábil, vendido pela mídia. Por Kiko Nogueira
Postado em 05 Apr 2017
Um dos mitos sobre Michel Temer, cultivado ao longo do processo de impeachment, era o de que se tratava de um político hábil, afável, inteligente — o antípoda da titular.
Elio Gaspari, entre outros cronistas, o definiu como “experiente, frio”, e conhecedor do “lado do avesso de Brasília”.
De Eliane Cantanhede a Ricardo Noblat, as supostas virtudes negociadoras do ex-vice decorativo foram cantadas aos quatro cantos, vendendo um Richelieu.
O rompimento com Renan Calheiros, cúmplice de décadas, veio enterrar de vez essa balela.
Temer sempre foi um operador de bastidores, viabilizando e distribuindo o butim do PMDB. Na presidência, continuou fazendo isso, além de cumprir com o serviço sujo dos patrocinadores do golpe no sentido de destruir o legado dos programas sociais do governo do qual participou.
Numa tentativa de parecer superior ao desprezo da população, assimilou o mote patético sugerido por Nizan Guanaes e passou a se defender: preferia ser impopular a populista.
Renan, que é qualquer coisa, menos bobo, está de olho nas eleições de 2018 em seu estado e não quer ficar ao lado de um presidente cuja popularidade despenca a cada pesquisa.
De que adianta um cargo para um apaniguado e outros favores se o homem é um tronco de enchente? Entre Temer e Lula, que cresce nas pesquisas, com quem ele gostaria de ser fotografado?
Michel, o habilidoso, o gênio da articulação, é refém de um detento, Eduardo Cunha, e da corriola da formação original de sua banda — Romero Jucá, Eliseu Padilha, Rodrigo Maia, Moreira Franco.
O jantar dos senadores governistas do PMDB na casa de Katia Abreu escancarou ainda mais a situação.
“Diziam que a Dilma não sabia onde ia, e o Temer não tem para onde ir”, tripudiou Renan. Dos 22 da bancada no Senado, doze estavam lá, mais Sarney e a filha Roseana.
“Na fritada de aratu, Temer também foi fritado”, falou um dos senadores.
Renan, o porta voz da insatisfação, pontuou que “estão nos propondo um suicídio” com as reformas. Sarney acha que Temer “tem que dialogar mais”.
Segundo o Valor, Michel escalou aliados para procurar “conter a ira” de Renan Calheiros. Tem medo de que as críticas contaminem a base de apoio e prejudiquem o andamento das reformas.
No meio tempo, enquanto o chão esfarela, MT vai disparando suas asneiras. “Deus me deu a graça de reconhecer o valor das mulheres”, discursou o cidadão que elogiou o sexo feminino pela capacidade de ver o preço da manteiga sem sal no supermercado.
A única saída para o caos é diretas já. Michel Temer, o homem que sabe da “mecânica de suas obras e suas pompas”, de acordo com Gaspari, não consegue combinar o jogo nem sequer com seus amigos, que dirá com os inimigos."
Pensem nisso enquanto eu vos digo até amanhã.
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