sexta-feira, 27 de maio de 2016
Rosa dos Ventos - CartaCapital
Uma pesquisa inédita indica que, após o afastamento, a presidenta recupera parte do apoio perdido, embora mantenha um elevado índice de rejeição
por Mauricio Dias
A expectativa política no Brasil de hoje está ancorada na resposta para a seguinte pergunta: a presidenta Dilma voltará ao poder, ou não voltará, após sofrer um “golpe de Estado suave”, para usar a sublime avaliação sobre o tema feita recentemente pelo papa Francisco?
Não há milagre capaz de sustentar com segurança uma das duas respostas possíveis a essa indagação: não e sim. Nesta ordem. Em princípio, tudo parecia perdido para Dilma, assim como parecia certo para Temer, ganhar a oportunidade de completar o restante do mandato iniciado em 2015.
Antes mesmo de tropeços na ineficiência administrativa do governo provisório e das revelações escandalosas saídas das entranhas do PMDB, surgiu uma mudança importante no comportamento do eleitor favorável à presidenta afastada.
Não é indício. É fato revelado por pesquisa inédita do Ibope, realizada após a consumação do golpe.
“Dilma passou de 18% para 33% de confiança”, diz Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, em econômica revelação dos resultados da pesquisa feita em meados de maio. Não foi feita avaliação do governo interino.
Março e Abril, auge do terror midiático |
Dilma teve crescimento de 15% comparado com números de duas outras pesquisas anteriores. A primeira, já divulgada, realizada em março, entre os dias 17 e 20, e a segunda, em meados de abril, de 14 a 18 (tabela). Esta última inédita.
As duas mostraram certa estabilidade no porcentual de confiança, mas ainda mantinham extremo o grau de desconfiança dos eleitores. Foram realizadas antes dos resultados da votação de admissibilidade do afastamento de Dilma na Câmara e no Senado.
Números da terceira pesquisa, de maio, indicam um impacto forte nos índices “confia”, para cima, e “não confia”, para baixo. A queda da desconfiança é expressiva. Caiu de 76% para 65%. Porcentuais ainda preocupantes. Projeta, porém, tendência de queda.
O resultado surpreende. Dilma, tudo indica, está em processo de recuperação política. A velocidade do caminho será ditada pelo possível fracasso do governo provisório de Temer.
Montenegro tem algumas explicações. Ele sabe, no entanto, que o Brasil não está diante de um fenômeno e alerta para um “erro” cometido pela mídia. Ela punha o foco na baixa avaliação do governo. Destacavam o “bom e ótimo” que desceu a 8%. Quase no fundo do poço. Deixava de lado, no entanto, o porcentual da resposta “Regular”.
“Existe o regular positivo. Não se deu atenção a isso. Muita gente veio do regular”, diz Montenegro. Um erro politicamente premeditado. Inserido perfeitamente no contexto do golpe.
Montenegro medita sobre a relação do grupo de eleitores “criados” pela solidariedade à Dilma. “Ainda não sei em que proporção”, admite.
Resta agora aguardar as próximas pesquisas. Elas podem inquietar alguns senadores.
Pensem nisso enquanto eu vos digo até amanhã
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