Isento, imparcial, isentão
"Colunista de jornal vive às voltas com a reação dos leitores. É o seu trabalho. Duro mesmo é quando não há reação. Não há dia em que colunista não seja atingido por alguma bala perdida. O termo que colunista mais lê e ouve é isenção. Um senhor me parou na rua. Não é a primeira vez que isso me acontece. Fiquei sobre a faixa de segurança, inseguro com a aproximação de carros que pareciam me ver como alvo. Um pouco mais e eu me veria como vítima de uma conspiração sobre rodas.
– Tenta ser isento uma vez na vida, cara. Tu consegues, vai.
– De que o senhor está falando?
– Não te faz, cara.
– Não estou me fazendo. É tanta coisa.
– Estou falando do teu preconceito contra o Bolsonaro.
Agradeci e tratei de me salvar. Atravessei com vida. Na outra margem, parei para consultar mensagens no celular. Não resisto. Quanto mais apressado estou, mais tempo perco tentando antecipar respostas. Um homem de barba branca me interpelou com a sutileza do Carlos Marun quando sai em defesa do seu amado e idolatrado presidente Michel:
– Para de fazer o jogo da direita, tchê. Seja isento!
– Achas isso mesmo? – ousei indagar.
– Sempre acha um jeito de ferrar o Lula para agradar os fascistas. Elogios aguados não nos enganam. Sabemos bem qual é o teu lado.
Acelerei o passo. Só teria uma boa resposta para essa acusação em uma semana. Sou lento. As minhas melhores respostas sempre chegam antes ou depois das críticas. Jamais coincidem com o instante em que sou alvejado. Avancei. O mar não estava para peixe de aquário. Dobrei uma esquina já bem mais reflexivo. Tudo me faz analisar a natureza humana. Uma senhora elegante, de grandes olhos negros, me interceptou:
– Hoje o senhor falou tudo o que penso. Parabéns pela isenção – disse.
Fiz-lhe um agradecimento cheio de imparcialidade. Consigo ser conciso e preciso quando elogiado com tanta isenção. Segui. Aí parei numa banca de jornais, algo que nunca faço. Um guri me lascou esta:
– Para de tentar ser isento. Isso não existe. Isenção é mito.
Disse-lhe que pensaria na sua aguda observação. Usei a palavra “aguda”. Juro. Foi a primeira vez. O guri sorriu altivo. O celular suspirou comovido ou encantado com a minha neutralidade. Um recado me chamou a atenção por estar todo em imponentes letras maiúsculas:
– SAI DE CIMA DO MURO, ISENTÃO!
É a mais terrível categoria de acusação do momento. Não ser isento é grave. Ser isentão é mais grave. Equivale a covardia. Fiquei ensimesmado. Um senhor com ar de advogado tratou de me consolar:
– Não dá bola. O importante não é ser isento, mas ser imparcial.
Respirei aliviado. Estava tudo mais claro. Arrisquei:
– Qual a diferença?
– Toda.
– Qual mesma?
– Não percebe?
– Não.
– Pelo jeito está te faltando objetividade.
Alguém tem mostrado objetividade em relação a alguma coisa?
Paulo Maluf, ancião de 86 anos, doente, com trombose e metástase, deve ficar em casa quando sair do hospital. Se a justiçar tarda e falha, não deve se tornar desumana para corrigir o rumo."
Esses tempos de hoje estão muito complicados, e o termo da moda é: isento,imparcial, ou simplesmente isentão, temos que ter cuidado com o que se fala, porque sempre haverá o censor, aquele ou aquela que vai tentar de uma maneira ou de outra tentar frear uma idéia, uma palavra, uma frase que sai de nossas bocas.
Penso que o que falta nesses tempos bicudos, é o respeito a diversidade de idéias, o modo de ser, assim ou assado, preferências dessa ou daquela maneira.
Mas sabemos que hoje não é assim, talvez, seja com o advento, das comunicações que hoje é de uma instantaneidade que dá medo, a tecnologia está aí, com rapidez de uma bomba atômica, uma notícia aqui, em segundos está no outro lado do mundo.
Qualquer cidadão que tem um pequeno celular está conectado, com o mundo, ele vê, um fato numa rua, um assalto por exemplo, tira umas foto, faz um comentário, e as ondas da internet se encarrega do resto. essa notícia, essa foto, o mundo já tomou esse conhecimento.
Mas o foco em si, que coloco, é que está faltando diálogo entre as pessoas, enfim conversar, bater-papo, e respeito mútuo e cada um respeitar aquilo que o outro pensa, podemos divergir, mas não precisamos irmos pra briga, usarmos a violência para que nossa idéia prevaleça sobre a outra.
Sim, os tempos são outros, vivemos em muitas situações acuados sem nos darmos conta muitas vezes desse fato.
É preciso, mais conversa, mais bate-papo, verbalizarmos nossas idéias, deixando um pouco de lado, o inseparável celular de todas as horas, para olharmos o nosso interlocutor nos olhos, e fluir um papo.
É preciso respeito a idéia ou conceito do outro, sendo assim, poderemos caminhar para momentos mais amenos e termos um convívio mais humano.
Pensem nisso enquanto eu vos digo até amanhã.
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