Intelectuais escrevem aos governantes
Carta Aberta ao Governo do Rio Grande do Sul
"Senhor Governador Sartori, senhor Vice-Governador Cairoli:
Os senhores obtiveram da Assembleia Legislativa um conjunto de autorizações que permite extinguir várias Fundações estaduais. Foi um processo muito doloroso para a cidadania, que expressou sua discordância na praça e no Parlamento, assim como nos bastidores. Não foi apenas a oposição que tentou mudar o curso do processo, também líderes do PMDB tentaram propor mediações e alternativas, sem sucesso.
Os senhores não proporcionaram à sociedade gaúcha a chance do debate sobre seu patrimônio e não ouviram os apelos e protestos de muitos cidadãos reconhecidos em suas áreas de atuação e de instituições relevantes do país e do estado, como o IBGE, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência/SBPC, a Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade de Engenharia do RS.
Extinguir Fundações de pesquisa, de planejamento e de cultura, como é o caso de FEE, FDRH, FZB, FEPAGRO, CIENTEC, FEPPS, METROPLAN, FIGTF, Piratini (TVE e FM Cultura), significa muito mais do que fechar os 1.200 postos de trabalho e, assim, diminuir despesas: os senhores e a população bem informada sabem que, com essas Fundações, se vai parte fundamental da possibilidade de desenvolvimento científico, tecnológico e cultural do estado. Sem elas, surgirão despesas novas, porque tanto o governo atual quanto os futuros inevitavelmente precisarão contratar empresas que prestem os serviços que elas hoje realizam.
Além disso, os senhores não explicitaram à sociedade gaúcha as razões fundamentais para a eliminação dessa parte essencial do patrimônio público. Os motivos orçamentários apresentados são frágeis para justificar uma ação tão radical. Com essas demissões e extinções, economizam-se cerca de 189,2 milhões, segundo dados divulgados pela imprensa, o que representa apenas 0,69% do orçamento do poder Executivo realizado em 2016, de acordo com os dados oficiais do Portal Transparência RS.
A sociedade gaúcha tem o direito de receber dos senhores, de forma transparente, a explicitação completa da situação financeira do Estado. Por que não fornecer o conjunto dos dados sobre as isenções fiscais e por que não responder à Ação Civil Pública impetrada pelo Ministério Público Estadual e determinada pela 7ª Vara da Fazenda Pública em 28/11/2016 para a divulgação desses dados?
O representante do governo declarou à imprensa, na apresentação das medidas de redução de despesas, que elas não são “fruto de um cálculo financeiro, mas de uma previsão conceitual”. Cabem, então, as perguntas: em que ocasião os cidadãos gaúchos discutiram e escolheram destruir parte tão importante de seu patrimônio, que lhes restringirá condições de desenvolvimento científico, tecnológico e cultural? E qual o significado desta “previsão conceitual”?
Na prática, o conceito que se expressa nas extinções aprovadas é a defesa dos interesses privados em detrimento dos interesses públicos. Serão as instituições privadas, principalmente de consultoria e de comunicação, as grandes privilegiadas. A cidadania gaúcha terá que arcar com os preços dos serviços que serão por elas prestados, muito maiores do que os custos hoje existentes e que impactarão muito mais fortemente os cofres públicos.
Não podemos aceitar passivamente a imposição de uma política de liquidação do patrimônio público, que se constitui num crime contra a cultura e o conhecimento científico e, portanto, contra a cidadania sul-rio-grandense. Por isto, colocamos em suas mãos nossa manifestação, que expressa a opinião de vários segmentos sociais preocupados com o desenvolvimento do Rio Grande do Sul.
Os senhores receberam a autorização para fechar as Fundações, mas não estão obrigados a executar este fechamento. Os estadistas detêm o poder de decisão, mas aceitam o debate e a possibilidade de revisar suas posições.
Por isto, apelamos para que os senhores suspendam os procedimentos para a extinção das Fundações e estabeleçam um fórum de diálogo e negociação, com representantes das organizações da sociedade civil e especialistas das áreas de conhecimento científico, tecnológico e cultural, que expressem a diversidade de posições existentes na sociedade, com o objetivo de formular alternativas exequíveis e profícuas para a superação da crise do Estado e o desenvolvimento do Rio Grande do Sul.
A grandeza e a biografia dos senhores como gestores públicos, neste momento, estão na aceitação do lado justo e democrático da equação política – o lado das informações transparentes, do debate público qualificado e da negociação das decisões que se mostrarem melhores para o Rio Grande do Sul.
Abrão Slavutzky – psicanalista |
Alfredo Fedrizzi – jornalista e publicitário, ex-diretor executivo da TVE |
Alfredo Gui Ferreira – botânico, professor aposentado da UFRGS, ex-presidente da AGAPAN |
Alfredo Jerusalinsky – psicanalista e diretor do Centro Lydia Coriat, de PoA e Buenos Aires |
Armindo Trevisan – poeta, crítico de arte e ensaísta |
Bagre Fagundes, folclorista e compositor |
Benedito Tadeu César – cientista político, ex-coordenador do LABORS/UFRGS e do PPGCP/UFRGS |
Carlos Alexandre Netto – médico, neurocientista e ex-reitor da UFRGS |
Celso Loureiro Chaves – pianista, compositor e professor da UFRGS |
Cíntia Moscovich – escritora e patronesse da Feira do Livro de PoA |
Cláudio Accurso – economista e ex-Secretário do Planejamento do Estado do RS |
Deborah Finocchiaro – atriz, diretora e produtora teatral |
Edgar Vasques – cartunista e ilustrador |
Enéas de Souza – economista, psicanalista, crítico de cinema e ex-secretário de Ciência e Tecnologia do RS |
Ernesto Fagundes – cantor |
Esther Pillar Grossi – educadora e coordenadora de pesquisa do GEEMPA |
Fernanda Carvalho – jornalista e apresA51:A62entadora de TV |
Flávio Kapczinski – médico psiquiatra, professor da UFRGS e membro da Academica Brasileira de Ciências |
Flávio Tavares – jornalista e escritor |
Francisco Marshall – historiador, professor da UFRGS e produtor cultural |
Francisco Salzano – geneticista, professor da UFRGS, membro titutar da Academia Brasileira de Ciência |
Gilberto Perin – jornalista, fotógrafo e diretor de cena |
Hélgio Trindade – cientista político e ex-reitor da UFRGS e ex-reitor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana/UNILA |
Hique Gomez – músico e ator |
Horácio Dottori – Astrônomo e professor emérito da UFRGS |
Ivan Izquierdo – neurocientista e coordenador do Centro de Memória e de Altos Estudos do Instituto do Cérebro da PUCRS |
Jefferson Cardia Simões – professor titular da UFRGA, membro da Academia Brasileira de Ciências |
Jorge Furtado – cineasta, fundador e membro da Casa de Cinema de PoA |
Kathrin Rosenfield – crítica literária e professora da UFRGS |
Katia Suman – radialista |
Leonardo Melgarejo – engenheiro agrônomo e presidente da Associação Gaúcha de Proteção do Ambiente Natural/AGAPAN |
Luís Augusto Fischer – escritor, professor da UFRGS e ex-patrono da Feira do Livro de PoA |
Luis Fernando Verissimo – escritor, cartunista, roteirista de TV e autor de teatro |
Luiz Antônio de Assis Brasil – escritor, professor da PUCRS e ex-secretário de Cultura do RS |
Luiz Osvaldo Leite – professor de filosofia, ex-diretor do Instituto de Psicologia da UFRGS e ex-presidente da OSPA |
Luiz Paulo Vasconcellos – ator, diretor teatral |
Márcia C. Barbosa – professora de física da UFRGS e membro da diretoria da Academia Brasileira de Ciências |
Maria Amélia Bulhões – historiadora da arte e presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte |
Maria Aparecida Grendene de Souza – economista e ex-presidente do Conselho Regional de Economia RS |
Maria Beatriz Luce – educadora, ex-reitora da UniPampa e ex-secretária de Educação Básica do MEC |
Maria Benetti – economista, especialista em economia agrícola |
Martha Medeiros – jornalista e escritora |
Moisés Mendes – jornalista |
Nei Lisboa – músico e compositor |
Néstor Monasterio – diretor e produtor teatral |
Paula Ramos – historiadora da arte e professora do Instituto de Artes da UFRGS |
Paulo Fagundes Visentini – historiador e ex-coordenador do PPG de Relações Internacionais da UFRGS |
Paulo Flores – ator e membro da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz |
Paulo Romeu Deodoro – professor de música e diretor musical Afrosul/Odomode |
Pedro Dutra Fonseca – economista e ex-vice reitor da UFRGS |
Rafael Pavan dos Passos – arquiteto, presidente da IAB-RS |
Regina Zilberman – crítica literária e professora do Instituto de Letras da UFRGS |
Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo – sociólogo e coordenador do PPG de Ciências Sociais da PUCRS |
Rogério Beretta – ator |
Rualdo Menegat – geólogo, professor do IGEO/UFRGS e coordenador-geral do Atlas Ambiental de Porto Alegre |
Ruben G. Oliven – antropólogo, ex-presidente da Associação Brasileira de Antropologia e da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais/ANPOCS |
Ruy Carlos Ostermann – jornalista, ex-secretário de Ciência e Tecnologia e ex-secretário de Educação do RS |
Sandra Dani – atriz e ex-professora do Departamento de Artes Dramáticas da UFRGS |
Santiago – cartunista |
Sérgio Faraco – escritor |
Tiago Holzmann da Silva – arquiteto e ex-presidente do IAB-RS |
Vitor Ramil – cantor, compositor e escritor |
Yamandu Costa – violonista e compositor |
Zé Adão Barbosa – ator e diretor teatral |
Zé Victor Castiel – ator e produtor |
Zoravia Bettiol – artista visual, designer e arte educadora" Pensem nisso enquanto eu vos digo até amanhã. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário