"bonis nocet, qui malis parcit" (Ofende os bons, quem poupa os maus)
Venho por meio desta manifestar-me no rigor da ocasião, sobre a saída prematura do seu partido, o PMDB, do nosso governo.
Se o Dr. Ulisses Guimarães fosse vivo certamente condenaria tal atitude, da qual ele se referiria como "covardia". Historicamente o PMDB, que surgiu do MDB, lutou contra a ditadura militar em 1965 como oposição à Arena, se consolidando com o bipartidarismo como um partido de lutas.
Ulisses Guimarães foi, sem dúvida, uma peça fundamental para o processo de abertura política e redemocratização do nosso País, ao lado de Franco Montoro e do ex-presidente Tancredo Neves. Quantas batalhas foram preciso para vencermos os "Atos Institucionais" dos anos que se seguiram após o Golpe de 64?
Nos causa estranheza que o nobre Vice-Presidente, depois de tantas lutas ao meu lado e duas eleições brilhantemente vencidas, abandone o nosso governo, num momento crucial para a democracia brasileira. Momento este de crise político-econômica e jurídico-midiática, que temos atravessado ao longo desses anos todos juntos.
O senhor presidente foi, por muitas vezes, os meus olhos e ouvidos, a minha voz e vez, o meu braço direito em diversos acontecimentos. O senhor foi o defensor do "semiparlamentarismo", com o Congresso, e foi o primeiro gestor oficial dessa crise que ainda estamos bravamente enfrentando.
Estou perplexa com a sua atitude de "deixar o governo", a qual denomino de "Saída Intratégica", porque vai de encontro a sua história política, como também do seu partido.
Ao contrário do que o senhor imagina, o PMDB foi e ainda é - porque estamos no mandato juntos - peça fundamental do nosso governo. Isso é público e notório. E a sua saída, diante do momento político atual, pode significar para a história um ato de desespero e covardia.
Quero deixar claro que nunca, nunca desconfiei de sua sinceridade e lealdade ao nosso governo, mesmo com todos me mostrando o contrário. Como posso afirmar, que vossa excelência nunca foi secundário e nem decorativo.
Não me estenderei em demonstrar a minha tristeza e decepção com a saída do PMDB do nosso governo. Mas posso lhe afirmar, presidente, que sair do governo que o senhor ajudou a construir não significa um ato inteligente. E se vossa excelência quer realmente deixar o nosso barco, que o faça da maneira correta, que é renunciando ao cargo ao qual foi eleito comigo. Só desta forma - a mais honesta - através da renúncia ao mandato, de fato o senhor estará saindo efetivamente do nosso governo.
Caso contrário, a sua permanência nele como Vice-Presidente será portanto conduzida por vossa excelência, de forma decorativa e desleal.
Que a história lhe mostre, ilustríssimo Temer, o quão é duramente covarde, aquele que teme lutar e não sair pela porta da frente num momento de confronto, e ainda por cima, se juntar aos inimigos."
Respeitosamente,
DILMA ROUSSEFF.
A Sua Excelência o Senhor
Doutor MICHEL TEMER
DO. Vice Presidente da República do Brasil
Palácio do Planalto
Esta seria, na minha opinião, a suposta carta que a Presidenta Dilma Rousseff deveria escrever a Michel Temer, após a atitude mais covarde da história política desse País desde a ditadura.