Richard Dawkins, o requentador planetário
Postado por Juremir em 24 de maio de 2015 - Uncategorized
Richard Dawkins vem a Porto Alegre palestrar no Fronteiras do Pensamento. Famoso no mundo inteiro, ele é biólogo e britânico, não necessariamente nessa ordem. Virou celebridade com o livro “Deus, um delírio”, que o consagrou como “príncipe do ateísmo”. Li a obra. Dawkins é o Lira Neto da questão religiosa. Faz milagres. Transforma o velho em novo sem acrescentar qualquer dado original. Lira Neto ficou famoso contando velhas histórias sobre Getúlio Vargas como se fossem inéditas. Dawkins garante a inexistência de Deus com argumentos mais requentados do que macarrão em casa de homem recém-separado. É naquela base de: quem criou o criador? Com uma boa dose de agressividade, de marketing, de mídia e de insultos, funciona. Vende livros.
O homem não perde viagem. Compra todas as polêmicas. Perguntado sobre o que deveria fazer uma mulher grávida de um feto com síndrome de down, não hesitou: “Aborte e tente de novo. Seria imoral trazer o feto ao mundo se você tem escolha”. Será? A vida de quem tem síndrome de down não vale à pena? Um down é menos digno de existência do que Dawkins? O cientista, orgulhoso da sua objetividade e da sua neutralidade de fachada, sustenta que para quem aceita o aborto como moral, validando, portanto, abortar um feto saudável, seria contraditório não poder tirar um feto com deficiência. Na saia justa, ele diz que amaria um filho down. Só que acha uma escolha “pragmaticamente sensata” evitar nascimentos de pessoas com essa deficiência. Antigamente se veria nesse tipo de raciocínio uma ponta de eugenia, aquela vontade hedionda de livrar o mundo dos “imperfeitos”. Mas Dawkins pode tudo. É o novo gênio da espécie. Resolve dilemas culturais a golpes de logicismo.
Richard Dawkins tem pontos em comum com Noam Chomski. Ambos estão na lista dos intelectuais mais influentes do planeta. Chomsky, porém, é visto como um esquerdista radical empedernido, crítico obsessivo do capitalismo americano. Não cabe, por essa razão, em certos eventos que recebem Dawkins de braços abertos. Não pretendo discutir se Dawkins está certo ou errado nas suas teses. Falo dele pelo espanto que sempre me causa: como pode ganhar tanta projeção com uma sopa tão rala e tão repetitiva? Os apaixonados por ele não deixarão de lembrar o seu trabalho como discípulo de Charles Darwin e como cientista do “Gene egoísta” e dos memes. Claro que conta. Conta muito. Poderia ter ficado por aí. Mas a fama do homem vem mesmo é dos seus ataques às religiões. Tudo que o diz com violência cabe numa nota de rodapé da obra do grande Voltaire.
Qual a chave do sucesso de Dawkins? A provocação. Se a hora é de pregar respeito à diversidade religiosa, ele pega a contramão e detona todas as religiões como perigosas e infantilizadoras. Não deixa espaço para questionamentos metafísicos, desejos universais e intemporais de transcendência e outros sussurros das profundezas do humano. Com a sua retórica altamente “sofisticada”, reduz tudo a esquizofrenia, idiotice ou manipulação. Confunde sentimento e institucionalização sem o menor constrangimento. Lira e delira.
Toda polêmica trás os seus prós e contras, o que devemos sim é tirar de toda a polêmica, todo e qualquer ensinamento que possa nos servir.
Se quisermos ser melhor como pessoa penso que não podemos aceitar as coisas por simplesmente aceitar, devemos questionar, perguntar, pois, é assim que crescemos para chegarmos aonde postulamos chegar.
Podemos polemizar, mas respeitando aquilo que pegamos para polemizar.
Pensem nisso enquanto eu vos digo até amanhã.
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