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Felicidade Nacional Bruta
A internet mudou a minha vida.
Só a minha! Participarei em fevereiro de uma banca de tese de doutorado na Universidade de Montpellier, na França, sobre a mutação antropológica provocada pelas tecnologias digitais em nossas sociedades. Uma das questões é: ainda temos tempo livre depois do surgimento da internet ou somos empurrados para a ocupação total das nossas horas?
De volta ao começo. A internet mudou a minha vida. Posso ler diariamente, traduzidos, artigos do New York Times. Aprendo muito com esse jornal odiado por Donald Trump. Se Trump detesta, só pode estar cada vez melhor. Num só dia, tomei conhecimento de um índice utilizado no Butão, o FNB (Felicidade Nacional Bruta), e de uma nova atividade para pessoas na aposentadoria. Os butaneses ficam espantados que não se aplique o FNB no resto do mundo. Parece-lhes evidente que o planeta está muito atrasado. O Butão não sofre de complexo de inferioridade.
Dasho Karma Ura, presidente do Centro de Estudos do Butão e Pesquisa de FNB, fala como especialista em economia da subjetividade: “As pessoas se sentem felizes quando veem alguma coisa ética (…) Quando você pensa que fez algo certo, direito e corajoso, quando você pode constantemente se recarregar como um ator significativo”. Certamente ele não conhece a mentalidade dominante entre empreiteiros, banqueiros e muitos políticos brasileiros. Sugiro a Henrique Meirelles trocar as consultas aos sábios do FMI pelos conselhos do técnico da FMB. O Butão tem muito a ensinar ao mundo. Precisa ficar longe de nós.
O FNB trabalha com números, que, segundo os positivistas, não mentem, embora possam enganar: “Em 2015, sua equipe divulgou um estudo que mostrou que 91,2% dos butaneses diziam que estavam um pouco, extensamente ou profundamente felizes, com um aumento de 1,8% em felicidade agregada entre 2010 e 2015”. Como anda a felicidade agregada no Brasil? Não sei. Temos muitos agregados às tetas públicas e pouca felicidade geral.
Outra coisa que aprendi no NYT tem a ver com o trabalho na terceira idade. Duas senhoras americanas, Deb Baker, professora do ensino secundário aposentada, e Barb Diner, ex-executiva de marketing, que moram em Denver, resolveram criar uma empresa inovadora e sem preconceitos, a Higher Standard Packaging. Buscaram o nicho mais promissor: embalagens de maconha à prova de crianças de acordo com a regulamentação recém-aprovada no Estado do Colorado. Sucesso total. As empreendedoras sexagenárias estão livres do tédio e faturando alto na base de “moral, moral, negócios à parte”. Parabéns!
A avaliação do New York Times é positiva a partir de estatísticas: “A indústria da cannabis está crescendo rapidamente. O mercado para a maconha legal recreativa e medicinal atingiu um total de US$ 6,9 bilhões (R$ 22 bilhões) em 2016, um aumento de 34% em relação a 2015, de acordo com o Arcview Group, uma organização baseada na Califórnia que pesquisa e investe na indústria”. Se o Brasil liberar a maconha pode diminuir a população carcerária, reduzir a violência e criar empregos para idosos que serão atingidos pela reforma da Previdência de Michel Temer.
Quem sabe aumenta também a nossa FNB?"
Pensem nisso enquanto eu vos digo até amanhã.
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