Paulo Moreira Leite é colunista do 247, ocupou postos executivos na VEJA e na Época, foi correspondente na França e nos EUA
Paulo Moreira Leite é colunista do 247, ocupou postos executivos na VEJA e na Época, foi correspondente na França e nos EUA
O comandante-em-chefe nada tem a dizer sobre 80 tiros e uma morte?
Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia -" Ao evitar um indispensável pedido de desculpas pela tragédia de 80 tiros na qual o músico Evaldo Rosa perdeu a vida quando se dirigia a um chá de bebê com a família, Jair Bolsonaro exibiu um comportamento incompatível com as responsabilidades de presidente da República.
Embora tenha a patente militar de capitão do Exército, Bolsonaro é Comandante-em-chefe das Forças as Armadas, a quem todo soldado e todo general deve obediência. Essa posição constitucional impede que tente se eximir do episódio. Tem o dever constitucional de repudiar uma ação covarde e violenta, incompatível com uma democracia, mesmo que às vezes ela pareça um pano velho.
Também deve prestar as devidas homenagens à família e aos amigos de Evaldo, e também a cada brasileiro, a cada brasileira. Não pode fugir desta foto, por mais que a imagem seja horrenda.
Não se pode falar em "incidente", expressão que ofende a dignidade do país e machuca a consciência de todos. Nenhum "incidente" produz 80 tiros. Houve uma ordem, e depois a segunda, a terceira, a quarta. Por fim, após a octagésima, quem tinha poder de comando deu ordem para parar de atirar.
Houve uma ordem para não prestar socorro aos feridos nem acolher as vítimas? É preciso saber como ficaram os soldados, o segundo sargento, o tenente, quando a viúva Luciana levantou os abraços e aos prantos pediu ajuda aos céus. Quem ouviu o grito de dor de quem perdeu um "amigo de 29 anos"?
O Brasil precisa saber disso, tem o direito de saber o que vai ocorrer com quem deu as ordens, quem cumpriu e, se por felicidade, alguém se recusou.
Em sua cor, sua condição social, no esforço de quem luta pela vida, os passageiros do Ka branco são um retrato do país das grandes maiorias, maltratados, brutalizados e, é claro, alvos preferencias da injustiça e da violência. Não podem ser tratados como lixo humano.
A obrigação primeira é determinar que os responsáveis sejam identificados, investigados e punidos, permitindo que cada momento de um espetáculo macabro possa ser esclarecido e nenhuma responsabilidade por este crime monstruoso seja acobertada.
Para o presidente da República, procurar a acomodação diante de uma tragédia dessa dimensão pode até trazer conforto imediato -- o preço será a perda de autoridade entre oficiais de patente militar superior.
Para o país, o resultado será reforçar uma inaceitável tradição de impunidade de violência -- militar ou não -- do Estado brasileiros contra a população mais pobre e indefesa.
Alguma dúvida?"
(Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)
Pensem nisso enquantoeu vos digo até amanhã.
Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia -" Ao evitar um indispensável pedido de desculpas pela tragédia de 80 tiros na qual o músico Evaldo Rosa perdeu a vida quando se dirigia a um chá de bebê com a família, Jair Bolsonaro exibiu um comportamento incompatível com as responsabilidades de presidente da República.
Embora tenha a patente militar de capitão do Exército, Bolsonaro é Comandante-em-chefe das Forças as Armadas, a quem todo soldado e todo general deve obediência. Essa posição constitucional impede que tente se eximir do episódio. Tem o dever constitucional de repudiar uma ação covarde e violenta, incompatível com uma democracia, mesmo que às vezes ela pareça um pano velho.
Também deve prestar as devidas homenagens à família e aos amigos de Evaldo, e também a cada brasileiro, a cada brasileira. Não pode fugir desta foto, por mais que a imagem seja horrenda.
Não se pode falar em "incidente", expressão que ofende a dignidade do país e machuca a consciência de todos. Nenhum "incidente" produz 80 tiros. Houve uma ordem, e depois a segunda, a terceira, a quarta. Por fim, após a octagésima, quem tinha poder de comando deu ordem para parar de atirar.
Houve uma ordem para não prestar socorro aos feridos nem acolher as vítimas? É preciso saber como ficaram os soldados, o segundo sargento, o tenente, quando a viúva Luciana levantou os abraços e aos prantos pediu ajuda aos céus. Quem ouviu o grito de dor de quem perdeu um "amigo de 29 anos"?
O Brasil precisa saber disso, tem o direito de saber o que vai ocorrer com quem deu as ordens, quem cumpriu e, se por felicidade, alguém se recusou.
Em sua cor, sua condição social, no esforço de quem luta pela vida, os passageiros do Ka branco são um retrato do país das grandes maiorias, maltratados, brutalizados e, é claro, alvos preferencias da injustiça e da violência. Não podem ser tratados como lixo humano.
A obrigação primeira é determinar que os responsáveis sejam identificados, investigados e punidos, permitindo que cada momento de um espetáculo macabro possa ser esclarecido e nenhuma responsabilidade por este crime monstruoso seja acobertada.
Para o presidente da República, procurar a acomodação diante de uma tragédia dessa dimensão pode até trazer conforto imediato -- o preço será a perda de autoridade entre oficiais de patente militar superior.
Para o país, o resultado será reforçar uma inaceitável tradição de impunidade de violência -- militar ou não -- do Estado brasileiros contra a população mais pobre e indefesa.
Alguma dúvida?"
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Pensem nisso enquantoeu vos digo até amanhã.
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