terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O QUE A BAHIA E MANGUEIRA TEM

Caymmi Mostra ao Mundo o Que a Bahia e a Mangueira TemMangueira, 1986

Caymmi Mostra ao Mundo o Que a Bahia e a Mangueira Tem - Mangueira, 1986
Caymmi Mostra ao Mundo o Que a Bahia e a Mangueira Tem - Mangueira, 1986Madrugada na Bahia.
"As últimas luzes da cidade dividem seu brilho com os tímidos raios de sol. O mar sopra um vento morno, cumprimentando os pescadores e anunciando mais uma manhã tropical. Os saveiros se movimentam e a vida recomeça.
Bahia, terra dos deuses, onde o poeta foi buscar inspiração para as mais belas melodias do cancioneiro popular. Mestre Dorival Caymmi, seu filho dileto, mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm. E nossa Escola, diante de tanta beleza, sente-se parte integrante da paisagem baiana. […]

Samba-Enredo

Autores: Ivo/Paulinho/Lula
Intérprete: Jamelão
Tocador de áudio
Mangueira vê no céu dos Orixás
O horizonte rosa, no verde do mar
A alvorada veste a fantasia
Pra exaltar Caymmi e a velha Bahia ô ô ô
Quanto esplendor
Nas igrejas soam hinos de louvor
E pelos terreiros da magia
O ecoar anuncia um novo dia
Nessa terra fascinante
A capoeira foi morar,
O mundo se encanta
Com as cantigas que fazem sonhar
Lua cheia
Leva a jangada pro mar
Oh! Sereia!
Como é belo o teu cantar
Das estrelas
A mais linda está no Gantois
Mangueira, berço do samba!
Caymmi a inspiração
Que mora no meu coração
Bahia, terra sagrada!
Yemanja, Yansã!
Mangueira super campeã!
Tem xinxim e acarajé,
Tamborim e samba no pé.
MANGUEIRA VÊ NO CÉU DOS ORIXÁS
O HORIZONTE ROSA NO VERDE DO MAR…
Aos poucos o astro-rei vai surgindo, colorindo as nuvens suavemente, tornando o horizonte cor-de-rosa… 0 mar completa o cenário, com suas águas esverdeadas, reino de Yemanjá. É o verde e rosa da MANGUEIRA, presente na natureza. É a manhã que se anuncia, que se prepara para saudar a mais querida Escola de Samba do Brasil.
A ALVORADA VESTE A FANTASIA
PARA EXALTAR CAYMMI E A VELHA BAHIA…
Os sinos das antigas catedrais ressoam pela cidade, num canto espiritual que enche os corações de esperança.
QUANTO ESPLENDOR
NAS IGREJAS SOAM HINOS DE LOUVOR…
Nessa terra de mil encantos, as mais diversas manifestações de fé convivem harmoniosamente. Prova disso são os atabaques, que se ouvem ao longe, encerrando mais uma noite de fascínio.
E PELOS TERREIROS DE MAGIA
O ECOAR ANUNCIA UM NOVO DIA…
Bahia dos quitutes, dos temperos picantes, das ladeiras… Ladeiras onde a ginga de seu povo fez história
NESSA TERRA FASCINANTE
A CAPOEIRA FOI MORAR…
Foi morar junto aos bambas, no mercado, no cais, entre os saveiros, ao som do berimbau. A capoeira, dança da terra, uma das inúmeras expressões musicais da Bahia.
Muitos são os seus cantores, os compositores da boa terra. Um deles é rei. Um deles se destaca pela profundidade de suas letras, pelo simplicidade de sua música… E só ele consegue cantar a denguice baiana, o doce limite entre o real e o imaginário.
E O MUNDO SE ENCANTA COM AS CANTIGAS
QUE FAZEM SONHAR…
E ele canta: ‘Minha jangada vai sair pro mar… Vou trabalhar meu bem querer
Aos poucos a frágil embarcação deixa o cais da Bahia para mais um dia de luta, de trabalho… E o vento embala a cantiga do pescador.
LUA CHEIA
LEVA A JANGADA PRO MAR…
Mas ele precisa voltar, para os braços de seu xodó, de sua yayá, sem se enfeitiçar com o chamado de Janaína, a mãe d´Água.
OH SEREIA
COMO É BELO O TEU CANTAR…
É o canto das ondas na beira do mar, é o sussurro das águas que vão e vêm, que escondem o mistério da sereia…
Antes de sair para o trabalho, o pescador pede a bênção áquele que é toda uma história, uma lenda viva, aquela à quem Caymmi dedicou uma das suas mais lindas canções: a Mãe Menininha…
E o samba exalta:
DAS ESTRELAS
A MAIS LINDA
TÁ NO GANTOIS…
Entretanto, se a mais linda estrela fulgura na Bahia, a estrela maior, aquela que brilha no coração do sambista, está no Rio de Janeiro, terra de bambas:
MANGUEIRA
BERÇO DO SAMBA
É todo um passado que ressurge, vibrante, autêntico! É a Velha Guarda, patrimônio deste Rio, patrimônio do samba cheia de glórias. É o morro da Mangueira, inteiro, prestando homenagem aos mais antigos, áqueles que souberam fazer de nossa escola a número um do Brasil e que vem prestar a sua homenagem ao poeta baiano.
CAYMMI, A INSPIRAÇÃO
QUE MORA NO MEU CORAÇÃO…
Salve Caymmi! Salve a raça baiana! Salve os Orixás!
BAHIA TERRA SAGRADA
YEMANJÁ, YANSÃ!
Salve a nação verde-e-rosa!
E o povo explode no refrão que consagra o que a Bahia e a Mangueira tem:
TEM XINXIM E ACARAJÉ
TAMBORIM E SAMBA NO PÉ
Samba autêntico, nascido das raízes mais profundas do sentimento brasileiro.
Salve a Bahia!
Salve Caymmi!
Salve a Mangueira, super-campeã!
Escrito por Ivo Meirelles, Paulinho e Lula.
COMO FOI O DESFILE
Após ver as inovações para o desfile de 1985 não surtirem o efeito esperado, a diretoria da Estação Primeira decidiu voltar a fazer um trabalho mais simples. Uma das decisões da direção de harmonia era a de cada ala não ultrapassar o limite máximo de 100 componentes, a fim de fazer com que o desfile tenha uma fluência muito melhor, sem maiores preocupações com o tempo. A escola voltava a não contar mais com a figura do “patrono”, com isso o orçamento para montar o carnaval ficaria um pouco mais apertado e mais uma vez o mangueirense e seu samba seriam a principal força motora do desfile.
O enredo escolhido remetia ao inesquecível super campeonato conquistado dois anos antes, quando a escola homenageou Braguinha. Desta vez outra figura querida e popular seria a inspiração para o carnaval de Mangueira: Dorival Caymmi, mangueirense assumido e talvez o maior expoente artístico da cultura baiana. Júlio Mattos, várias vezes campeão pela Mangueira voltava a montar um carnaval pela querida agremiação.
Quinta escola a desfilar na segunda-feira de carnaval, a Mangueira, antes de iniciar a apresentação do enredo “Caymmi Mostra ao Mundo o Que a Bahia e a Mangueira Têm”, cantou na concentração o samba de 1985 na potente voz de Mestre Jamelão, já que o cantor não o pode fazer no ano anterior na avenida. O samba, composto por Ivo Meirelles (filho da famosa passista e pastora mangueirense Nananã da Mangueira e que anos mais tarde se tornaria presidente da Verde e Rosa), Lula e Paulinho Carvalho era um dos mais bem aceitos daquele ano e já começava a mostrar a sua força desde os primeiros minutos de desfile. A composição se tornaria praticamente um hino mangueirense anos mais tarde.
A comissão de frente era formada por quinze baianas representando a lavagem das escadarias do Bonfim, abrindo os caminhos para um bom desfile da escola. Após o abre-alas que trazia o nome e o símbolo da escola, vieram bonitas alas com referências ao mar, sempre presente nas obras de Caymmi. Destaque neste setor para a alegoria que homenageava a música “Promessa de Pescador” e a alegoria que trazia esculturas representando Netuno e Iemanjá, o rei e a rainha do mar. Também merecem ser destacados o segundo casal de mestre sala e porta bandeira: Robertinho e Tidinha, com uma belíssima fantasia em branco com detalhes roxos.
Em seguida começaram a serem mostradas nas fantasias, as festas, a religiosidade e a culinária típica da Bahia, também por diversas vezes exaltadas por Caymmi em sua carreira. Mesmo sendo este o setor mais colorido da escola, o verde e o rosa ainda se destacavam muito das demais cores. Interessante observar que Júlio Mattos usava as cores que remetiam à Mangueira de antigamente, com as mesmas aparecendo de forma quase berrante, uma das marcas registradas dos desfiles da escola e, por que não dizer um dos maiores orgulhos dos mangueirenses.
Nesta parte do desfile, veio o primeiro casal de mestre sala e porta bandeira: Lilico e a veterana Mocinha, com uma impecável roupa dourada. Também estava a bateria comandada por Mestre Ximbico, conduzindo o samba numa cadência sublime. Com toda a certeza foi uma das melhores apresentações de uma bateria de escola de samba na avenida. Poucas vezes também se viu Jamelão conduzir um samba de forma tão magistral na passarela, mostrando que mesmo já sendo um cantor consagrado e de idade avançada, ainda podia se superar e melhorar ainda mais a sua performance, que já era maravilhosa. Jamelão revelaria anos mais tarde, que este foi um dos sambas que mais lhe emocionou. Via-se no rosto de cada mangueirense a grande alegria ao cantar o samba, numa empolgação raramente vista na passarela, sobretudo no refrão.
Logo em seguida, veio o carro que trazia o homenageado, acompanhado de sua neta e da baiana Marta Rocha, ex-Miss Brasil. Outro ponto interessante foi a grande alegoria da “Preta do acarajé”, muito bem resolvida, onde predominavam a cor branca, com alguns detalhes em dourado e trazendo Dona Zinha, a mais antiga destaque da Estação Primeira. Na alegoria que representava os Orixás, o destaque era Clóvis Bornay.
A música “Dora” foi retratada no setor seguinte, com alas que remetiam ao frevo, ao maracatu e com uma alegoria representando o Maracatu Elefante. Seguindo estas representações, foi mostrada uma alegoria onde se viam os famosos vitrais das igrejas baianas. O carro trazia o tradicional destaque Laerte Rafael. A alegoria “O que é que a baiana tem?” foi a última apresentada, prestando uma homenagem a Carmen Miranda que espalhou a fama da baiana pelo mundo. Encerrando o desfile, a grande ala das baianas evoluía com muito entusiasmo, tônica do desfile mangueirense em 1986.
Alcione, Rosemary, Terezinha Sodré e as damas maiores de Mangueira: Dona Neuma e Dona Zica também desfilaram sua empolgação pela verde e rosa. O que se via ao final do desfile era a certeza, no olhar de cada mangueirense de que a escola iria disputar fortemente o título depois do grandioso desfile apresentado.
E foi o que aconteceu. Com apenas uma nota diferente de 10 ( uma nota 9 no último julgador) a Mangueira superou a Beija-Flor por três pontos e se sagrou novamente a grande campeã do carnaval. A garra de cada mangueirense sem dúvidas foi o fator determinante para a vitória. Vitória mais uma vez do samba, da tradição e do amor à sua escola de samba. Mais uma vez explodia de alegria e emoção a Nação Verde e Rosa e o Rio de Janeiro.
Pensem  nisso  enquanto  eu  vos digo até amanhã.

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