O visionário Caldas Júnior
Postado por Juremir em 1 de outubro de 2015 - Uncategorized
O jornal Correio do Povo circulou pela primeira vez em 1º de outubro de 1895, com quatro páginas, em formato 39 por 56 centímetros, e uma tiragem de dois mil exemplares. Seriam seis edições por semana, de terça-feira a domingo. Júlio de Castilhos governava o Estado. Borges de Medeiros era o chefe de polícia. Caldas Júnior, o fundador, tinha 27 anos. Para a equipe, convidou o menino Mário Totta, de 21 anos, caixeiro na Livraria Americana, e o mulato Paulino Azurenha, especialista em artes gráficas. Caldas foi advertido pelos preconceituosos da época de que não era um bom ponto de partida ter um negro na empreitada. Não só ele ignorou tal infâmia, como deixou Paulino na direção do jornal quando viajava.
No editorial da primeira edição, Caldas avisou que o Correio do Povo seria “noticioso, literário e comercial”. Essa foi a sua revolução. Disse que o jornal se ocuparia “de todos os assuntos de interesse geral, obedecendo à feição característica dos jornais modernos e só subordinando os seus intuitos às aspirações do bem público e do dever inerente às funções da imprensa livre e independente”. Nada do partidarismo dominante. Caldas era sergipano, filho de um juiz de fortes convicções morais e políticas. O pai, desembargador Francisco Antônio Vieira Caldas, foi executado em Santa Catarina pelos esbirros de Floriano Peixoto durante a Revolução Federalista. O Correio do Povo, de resto, surgiu num tempo conturbado: seis anos depois da proclamação da República, sete anos após a abolição da escravatura e no próprio ano do fim da guerra civil entre chimangos e maragatos. Caldas mudou o jornalismo gaúcho.
Botou a notícia em primeiro lugar. Garantiu espaço para o contraditório. Usou o que se chamaria hoje de estratégias de marketing. Divulgou o lançamento do Correio do Povo nos veículos concorrentes. Mandou exemplares para a casa de leitores escolhidos, que podiam devolvê-lo se não tivessem interesse. Fez uma promoção de assinaturas. Quem assinasse por ano, escolhia um livro numa lista de dez best-sellers, entre os quais O Jogador de Dostoievski. Estruturou o jornal em cima de informação, serviço, opinião e entretenimento. Já saiu com o folhetim “Os Farrapos”, de Oliveira Belo, ligado a uma família imperial. Caldas, graças ao telégrafo, recorreu fartamente a material internacional sobre ciência, política, costume e cultura.
O humor foi um dos pontos fortes do jornal desde o primeiro dia. E textos publicitários ousados: “Não desanimeis, rapaziada sofredora! Não percais a esperança de curar-vos radicalmente das gonorreias recentes e crônicas em poucos dias”. Sem partido e sem causa única, o Correio do Povo chegou para ser os olhos e ouvidos da população. A administração municipal logo experimentaria as críticas do jornal. Em 1º de janeiro de 1899, Caldas publicou, numa linha de cinco colunas, a informação que o deixara eufórico: “O Correio do Povo é o jornal de maior tiragem e circulação do Rio Grande do Sul”. O visionário fundador morreu cedo, em 9 de abril de 1913, aos 45 anos de idade. O todo já estava na parte. O ciclo continua. Todo dia.
Na passagem de mais de um século de vida desse grande jornal gaúcho, seus 120 anos, lembro
como hoje que eu ainda piá, aprendi a ler, sentado na perna do meu pai enquando ele lia o
seu grande jornalão, e o meu velho lá atrás, já me mostrava as letras graúdas que tinha no jornal.
Eu aprendi o gosto da leitura incentivado pelo meu pai Getúlio, as primeiras sílabas ditas foi no
Correio do Povo.
É motivo de orgulho um jornal de tanta história ter nascido forte, e preocupado apenas na
notícia.
Que esse jornal, hoje controlado pelo Grupo Record, não perca sua linha editorial e faça sempre o
melhor jornalismo é isso que precisamos e desejamos.
Pensem nisso enquanto eu vos digo até amanhã.
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